Apocalipse Adiado: A História das Testemunhas de Jeová (Toronto: University of Toronto Press, 1997, segunda edição) de M. James Penton (1932-), pp. 11-46.

Primeira Parte: História

Capítulo 1: O Começo de um Movimento

M. James Penton


As Testemunhas de Jeová surgiram do meio religioso do protestantismo americano do fim do século XIX. Embora elas possam parecer muito diferentes dos protestantes tradicionais e rejeitem algumas doutrinas centrais das grandes igrejas, num sentido real são os peculiares herdeiros americanos do adventismo, dos movimentos proféticos do evangelismo britânico e americano do século XIX, do metodismo, e do milenarismo proveniente tanto do anglicanismo do século XVII como do não-conformismo protestante inglês. De fato, existe muito pouco no seu sistema doutrinal que seja exterior à vasta tradição protestante anglo-americana, embora existam certos conceitos que elas têm mais em comum com o catolicismo do que com o protestantismo. Se elas são únicas em muitos aspectos -- como indubitavelmente são -- isso deve-se simplesmente às combinações e permutações teológicas particulares das suas doutrinas, em vez de ser por causa da novidade. Também tem de ser sublinhado que o impulso tanto das suas idéias como das suas práticas tem sido desenvolvido principalmente, senão mesmo exclusivamente, nos Estados Unidos durante o fim do século XIX e no século XX. Por isso, a menos que compreendamos algo dos amplos temas da história americana durante este período, é difícil compreender as Testemunhas de Jeová. No entanto, dito isto, o melhor modo de começar o estudo das Testemunhas é examinar a história pessoal de um homem -- Charles Taze Russell, o primeiro presidente do que é agora a Watch Tower Bible and Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados], a principal pessoa responsável pela divulgação das doutrinas que serviram como base para os ensinos dos International or Associated Bible Students [Estudantes da Bíblia Internacionais (ou Associados)], nomes pelos quais as Testemunhas eram conhecidas antes de 1931.

Charles Russell: Os Anos Iniciais

Nascido em 1852 em Pittsburgh, Pennsylvania, Russell1 foi criado como presbiteriano pelos seus pais profundamente religiosos, Joseph L. e Eliza Birney Russell, ambos de descendência escocesa-irlandesa (Ulster Protestante). Quando ele era criança, a mãe tinha-o encorajado a considerar o ministério cristão, mas depois de ela morrer, o pai treinou-o para se tornar seu sócio nos negócios. O jovem Russell recebeu uma educação modesta em escolas públicas, complementada pelo estudo sob tutores privados. Quando ele tinha catorze anos, o seu pai começou a empregá-lo na administração da sua loja de vestuário e no ano seguinte enviava-o a várias centenas de milhas de distância, a Filadélfia, como seu agente de compras. Pouco tempo depois ele tornou-se sócio do pai, e juntos desenvolveram um grande negócio de lojas de vestuário. No fim da década de 1870 ou nos primeiros anos da década seguinte ele tinha acumulado uma fortuna apreciável.2

Apesar do seu sucesso no mundo dos negócios, Russell continuou muito mais interessado em assuntos religiosos. Enquanto rapaz ele tinha sido um calvinista devoto que por vezes escrevia avisos tenebrosos acerca do fogo do inferno em lugares públicos conspícuos para encorajar os trabalhadores a emendar os seus caminhos iníquos.3 Contudo, ele ainda estava na adolescência quando tanto ele como o pai começaram a tornar-se de certa forma 'libertos' religiosamente. Charles juntou-se à igreja congregacionalista local, que era menos austera do que a igreja presbiteriana, e Joseph começou a mostrar interesse no Adventismo.4 Então, quando tinha apenas dezasseis anos de idade, Charles Russell 'começou a ficar abalado na fé a respeito de muitas doutrinas que aceitara há muito tempo.' De fato, tal como tantos jovens sérios, ele 'caiu presa fácil da lógica da infidelidade.' Ao tentar converter um 'infiel', não foi capaz de defender com sucesso as suas crenças e perdeu a fé na Bíblia. Ainda assim, ele continuou a orar a Deus e continuou a sua busca da verdade.

O motivo por que o jovem piedoso ficou abalado não é difícil de perceber. Conforme os seus escritos mais antigos mostram, ele foi poderosamente influenciado pelo espírito racionalista da sua época e, da adolescência em diante, nunca deixou de se interrogar sobre como um Deus amoroso podia punir pecadores com os tormentos infinitos do inferno de fogo. Mas igualmente importante, sem dúvida, foi o sentimento de Russell para com o Todo-Poderoso. Para ele, Deus era seu pai num sentido preeminente, e como ele tinha tido sempre um relacionamento tão caloroso e amoroso com o seu pai humano, Joseph Russell, parece que ele nunca poderia conceber que o Senhor Jeová fosse outra coisa senão uma deidade misericordiosa.

Algures em 1869, Jonas Wendell, um pregador do Advento Cristão, estava a realizar um serviço num 'salão poeirento, pouco asseado', em Allegheny, Pennsylvania. Russell deparou-se com a reunião, ficou e escutou. Em resultado disso, a sua fé na Bíblia foi restaurada. Porém, ele não se tornou num 'Segundo Adventista' nesse tempo nem, do seu próprio ponto de vista, em qualquer altura posterior. Quase imediatamente ele contactou vários amigos que começaram a estudar as Escrituras com ele. Sob a sua liderança, foi formada uma classe de estudo da Bíblia que haveria de evoluir gradualmente até se tornar num movimento separado.

Tem sido dada muita atenção aos conceitos e ensinos de Russell; surpreendentemente, pouca atenção tem sido dada às fontes dos mesmos, quer pelos seus amigos quer pelos seus inimigos. As razões são um tanto complexas. Parece que, como muitos dos seus seguidores o encararam durante muito tempo como sendo o 'servo fiel e sábio' de Mateus 24:45-47 e o 'Mensageiro Laodicense',5 eles enfatizaram o seu papel pessoal como líder religioso em vez do seu débito para com os seus predecessores. Ao contrário, os seus críticos têm estado ansiosos por representar as doutrinas dele como não tendo qualquer tradição respeitável por detrás e, por essa razão, também fracassaram em examinar com qualquer profundidade as origens do seu pensamento. Além disso, as próprias Testemunhas de Jeová têm estado tão envolvidas na proselitização na expectativa do apocalipse, que têm tido pouco tempo ou desejo de estudar os seus próprios antecedentes. Mas Russell identificou pelo menos alguns dos homens e o movimento para com os quais estava em dívida por terem-no ajudado a chegar ao sistema doutrinal que desenvolveu ao longo de quarenta e cinco anos.

Ele indicou francamente a sua 'dívida para com os adventistas bem como outras denominações' e mencionou duas pessoas, George Stetson e George Storrs, que lhe tinham oferecido assistência espiritual. Falando sobre o período de 1869 a 1872, ele disse: 'O estudo da Palavra de Deus com estes amados irmãos levou-me, passo a passo, até esperanças mais verdejantes e brilhantes para o mundo, embora não tenha sido senão em 1872 que eu obtive uma imagem clara do trabalho do nosso Senhor como o nosso preço de resgate, que descobri que a força e a fundação de toda a esperança de restituição reside nessa doutrina.'6

Quem, pois, eram Stetson e Storrs, e quais foram as contribuições deles para o pensamento de Russell? A resposta à primeira parte desta pergunta é que ambos tinham longos antecedentes no 'Segundo Adventismo'. De fato, Stetson era um ministro do Advento Cristão,7 enquanto Storrs8 tinha sido um dos principais fundadores da Life and Advent Union [União da Vida e do Advento]. Contudo, ambos eram de mentalidade independente e pouco depois de Russell e dos seus amigos terem começado o seu estudo da Bíblia, Storrs cortou todos os laços com a União.

George Storrs

Destes dois homens que influenciaram Russell, George Storrs foi de longe o mais importante. Nascido em 1796 em Lebanon, New Hampshire, ele, tal como Russell, foi criado num austero ambiente calvinista. Mas aos vinte e nove anos de idade tornou-se num convertido ao metodismo e mais tarde foi ordenado ministro da Igreja Metodista Episcopal. A sua posição por fim tornou-se insustentável quando na década de 1830 tornou-se num adversário aberto da escravatura nos Estados Unidos. Em 1840 ele renunciou da igreja.

Mais importante foi o fato de em 1837 ele ter lido um tratado da autoria do 'Diácono' Henry Grew,9 um pastor de origem inglesa, ex-batista, de Filadélfia. Devido ao tratado, Storrs passou a acreditar no que é chamado 'condicionalismo':10 a idéia de que o homem não tem uma alma imortal mas, antes, ganha a vida eterna sob a condição de receber tal dádiva de Deus através de Cristo. Depois disso, Storrs tornou-se no principal proponente americano do condicionalismo, ou 'aniquilacionismo',11 como era por vezes chamado, e do ensino de que os mortos estão inconscientes ou dormindo até à ressurreição. Em 1841 ele publicou An Inquiry: Are the Souls of the Wicked Immortal? In Three Letters [Uma Pesquisa: Será Que as Almas dos Iníquos são Imortais? Em Três Cartas], e no ano seguinte uma ampliação do mesmo tema em An Inquiry: Are the Souls of the Wicked Immortal? In Six Sermons [Uma Pesquisa: Será Que as Almas dos Iníquos são Imortais? Em Seis Sermões]. Significativamente, cerca de 200.000 cópias de Six Sermons estavam em circulação nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em 1880.12

Em 1842 Storrs também se envolveu com o movimento liderado por William Miller, um batista de New England que estava convencido, com base no seu cálculo da 'cronologia bíblica', que o segundo advento de Cristo ocorreria algures entre março de 1843 e março de 1844. Storrs tornou-se então um dos principais apoiantes da escatologia Millerita e pregou por toda a parte em 1842 e 1843 a respeito do esperado advento. Quando Cristo não apareceu como Miller tinha esperado, um re-exame dos seus cálculos pelos seus seguidores produziu a sugestão de que o Senhor Jesus viria nas nuvens em outubro de 1844. Quando essa data também não trouxe o advento, Storrs abandonou o movimento Millerita. De fato, ele sentiu que ele e outros tinham sido mesmerizados pelo emocionalismo Millerita. Além disso, William Miller e alguns líderes Milleritas proeminentes rejeitaram a doutrina do condicionalismo de Storrs. No entanto, a associação de Storrs com os Milleritas e com os seus sucessores, os vários aderentes do Segundo Adventismo, levou à adoção do condicionalismo por vários movimentos dos séculos XIX e XX: a Igreja do Advento Cristão, os Adventistas do Sétimo Dia, a União da Vida e do Advento, a Igreja Mundial de Deus, e talvez os Cristadelfos.13 Durante a sua associação com o Millerismo em 1843, Storrs fundou um jornal chamado Bible Examiner [Examinador da Bíblia] que passou a ser publicado numa base regular em 1847. O seu objetivo era expresso no lema 'Não há Imortalidade nem Vida Eterna a não ser somente através de Jesus Cristo'. Em 1863 o Bible Examiner tinha-se tornado tão influente que os seus apoiantes juntaram-se a Storrs na formação da União da Vida e do Advento. Como resultado, foi-lhe pedido que editasse um jornal semanal chamado Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da Vida e do Reino Vindouro]. Ao mesmo tempo, ele suspendeu a publicação do Examiner.

Em 1871 ele separou-se da União da Vida e do Advento. Anteriormente ele tinha acreditado que o destino final de todos os homens seria fixado inalteravelmente na morte, sem levar em consideração a inevitável ignorância na qual tinham sido colocados nesta vida. Depois ele abandonou essa crença, ensinando que aqueles que tinham morrido sem conhecimento de Cristo receberiam uma oportunidade de aprender sobre o seu sacrifício em favor deles depois de uma ressurreição na terra e, caso se mostrassem fiéis, receberiam a dádiva da vida eterna numa terra paradísica restaurada. Os seus associados na União da Vida e do Advento rejeitaram essa posição, e Storrs fez renascer o Bible Examiner.

Por volta dessa época Russell estava a tomar conhecimento de Storrs, e é perfeitamente óbvio que Storrs contribuiu muito para o pensamento do jovem da Pennsylvania. Um exame do Bible Examiner revela claramente que Russell aprendeu as doutrinas do resgate expiatório de Cristo e a restituição da humanidade a uma terra paradísica diretamente de Storrs e dos seus associados14 e ainda, é claro, a doutrina do condicionalismo. Também é evidente que a prática de celebrar o Memorial da Ceia do Senhor uma vez por ano na suposta data da Páscoa judaica, 14 de Nisã, tal como é feito pelas Testemunhas de Jeová hoje, foi algo que Russell aprendeu do editor de Bible Examiner.15 Finalmente, os sentimentos negativos de Russell em relação às igrejas e organizações religiosas podem ter vindo diretamente de Storrs. Mas Russell não obteve de Storrs a sua atitude igualmente negativa em relação à autoridade secular, ao voto ou ao serviço militar. Jonathan Butler está errado ao descrever Storrs como um adventista 'apocalíptico apolítico'.16 De fato, em Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da Vida e do Reino Vindouro] Storrs opôs-se regularmente ao pacifismo e apoiou a supressão dos Estados Confederados pelos exércitos da União durante a Guerra Civil Americana devido ao seu intenso ódio à escravatura.17

Russell e o Objeto e a Maneira da Volta de Cristo

Não se deve assumir que Russell e os seus associados durante os anos 1869 a 1875 estavam simplesmente a tomar as suas idéias de Storrs e de Stetson. Russell era um estudante ávido e começou a desenvolver o seu próprio sistema doutrinal baseado num exame meticuloso das Escrituras, de vários comentários da Bíblia e de idéias comuns a muito do protestantismo americano do século XIX. Por exemplo, ele seguiu o Dr. Joseph A. Seiss, um proeminente pastor luterano de Filadélfia e editor do Prophetic Times [Tempos Proféticos] (1863-1881), o principal jornal milenarista nos Estados Unidos durante a segunda metade do século XIX, ao afirmar que Cristo fora ressuscitado no espírito, não na carne.18 Além disso, depois de examinar a Emphatic Diaglott, uma tradução interlinear da recensão de Griesbach do Novo Testamento de Benjamin Wilson, um membro da Igreja de Deus (Fé de Abraão), ele notou que a palavra grega parousia, traduzida 'vinda' na King James Version, muitas vezes significa mais propriamente 'presença'. Assim ele passou a defender que nos últimos dias, imediatamente antes da sua revelação em ira na batalha do Armagedom, Cristo estaria invisivelmente presente. Nesse tempo, apenas os seus seguidores fiéis sabiam esse fato. Assim, em meados da década de 1870,19 Russell imprimiu e publicou 50.000 cópias de um pequeno panfleto intitulado The Object and Manner of Our Lord's Return [O Objeto e Maneira da Volta de Nosso Senhor] para tornar conhecidas as suas idéias.

Algumas das idéias presentes em The Object and Manner eram comuns a grande parte do protestantismo evangélico do século XIX. Por exemplo, Russell tirou informação diretamente dos comentários bíblicos de Adam Clarke e de Sir Isaac Newton,20 do qual tirou a interpretação historicista padrão21 do livro de Revelação. Muitos outros dos seus conceitos, tal como são apresentados no panfleto, parecem ter sido obtidos diretamente de George Storrs e do adventismo.

Mas as idéias principais em The Object and Manner não vieram das fontes citadas por Russell. Num artigo em três partes publicado recentemente em The Bible Examiner [O Examinador da Bíblia],22 Carl Olof Jonsson demonstra claramente que existiram muitos outros tanto na Grã-Bretanha como na América que acreditavam no que é chamado 'doutrina da vinda em duas etapas', a idéia da presença invisível de Cristo antes da sua revelação no fim do mundo atual e o ensino de um arrebatamento invisível dos santos durante a sua presença ou parousia -- tudo idéias apresentadas em The Object and Manner. De fato, Jonsson mostra de forma muito conclusiva que estes conceitos foram originados em 1828 por Henry Drummond, um evangélico inglês proeminente que, com Edward Irving, foi um co-fundador da Igreja Católica Apostólica, ou Irvinguitas. Mais tarde, porém, muitas das idéias de Drummond foram popularizadas e espalhadas por toda a Grã-Bretanha e Estados Unidos por John Nelson Darby, da Irmandade de Plymouth (que tinha estado em associação próxima com Drummond e Irving), pelo Reverendo Robert Govett, um clérigo anglicano, e nas décadas de 1860 e 1870 pelo Rainbow [Arco-íris], um importante jornal milenarista britânico que foi editado em 1886 e 1887 pelo bem conhecido tradutor da Bíblia Joseph B. Rotherham. Além disso, as doutrinas de Drummond foram adotadas pelo Dr. Joseph Seiss. Portanto, conclui Jonsson, Russell com toda a probabilidade tomou emprestadas as idéias centrais que aparecem em The Object and Manner of Our Lord's Return destes predecessores milenaristas e, em particular, de Seiss. Jonsson declara: 'É bastante óbvio que Russell não originou por si mesmo a sua opinião sobre a vinda e presença invisível de Cristo, mas tomou-a de outros, e embora isso não possa ser estabelecido com certeza absoluta, a evidência disponível indica fortemente que ele plagiarizou as opiniões do Dr. Seiss nesta matéria.'23

O Dr. Nelson H. Barbour e os Três Mundos

Em janeiro de 1876 Russell entrou em contato com o Herald of the Morning [Arauto da Manhã], publicado em Rochester, Nova Iorque, pelo Dr. Nelson H. Barbour, um pregador adventista independente que também tinha sido um Millerita e associado de George Storrs. Barbour tinha estado ligado ao círculo do qual Jonas Wendell fora membro. Tal como Wendell, ele usou a cronologia que dizia que o ano 1873 tinha marcado 6.000 anos desde a criação de Adão.

No Herald of the Morning [Arauto da Manhã] Barbour e um co-trabalhador, John H. Paton, tinham ido muito para além de Wendell e dos seus associados, que tinham originalmente acreditado que 1873 presenciaria o segundo advento e a consumação da terra por fogo. Quando nada de visível aconteceu naquele ano, eles primeiro ficaram muito perplexos até que B. W. Keith,24 um leitor do Herald, descobriu a tradução de Benjamin Wilson de parousia como 'presença'. Então, tal como Russell, Barbour e Paton começaram a acreditar na idéia de uma presença invisível de Cristo, que eles achavam ter começado segundo o plano em 1874.

Russell, que anteriormente tinha rejeitado a cronologia e o estabelecimento de datas dos adventistas, tal como George Storrs depois de 1844, agora pagou as despesas de Barbour para que visse a Filadélfia encontrar-se com ele e mostrar-lhe 'completamente e biblicamente, se pudesse, que as profecias indicavam 1874 como sendo a data em que começara a presença do Senhor e a "colheita".' Conforme o jovem mercador, então com apenas vinte e quatro anos, declarou mais tarde: 'Ele veio, e a evidência satisfez-me.'25 Mais uma vez Russell ficou impressionado por idéias racionalistas.

Seguiram-se imediatamente vários desenvolvimentos importantes. Russell deu o seu apoio financeiro ao Herald of the Morning [Arauto da Manhã], deu dinheiro a Barbour para preparar um livro representando as suas crenças a respeito do fim da era, e reduziu certas atividades de negócios para se envolver em viajar e pregar enquanto Barbour escrevia e publicava. Pouco depois, segundo o relato de Russell, ele pediu que Paton se lhe juntasse na pregação e também lhe pagou as despesas. Assim começou uma breve mas importante associação.

As particularidades das datas que Barbour explicou a Russell foram expostas na primavera de 1877 em Three Worlds and the Harvest of This World [Três Mundos e a Colheita Deste Mundo], o livro que Russell o tinha encorajado a escrever. Embora apresentasse os nomes dos dois homens como autores, o livro foi composto inteiramente por Barbour.26 Consequentemente, Three Worlds, com a sua cronologia elaborada, especulação profética e escatologia, continha alguns dos seus pensamentos originais, além de conceitos tirados de várias fontes. Entre outras coisas, ele continuou a usar o sistema ano-dia27 de interpretação de numerosas profecias; também aceitou a idéia de um 'ano profético' de 360 dias28 e uma interpretação historicista do livro de Revelação. Mais significativo, ele foi buscar muita informação aos estudos milenaristas de vários escritores do século XIX ao formular um sistema que demonstrou 'correspondências' biblico-matemáticas surpreendentes, um fato que impressionou grandemente Russell e que levou muitos milhares de pessoas a aceitar o sistema de Barbour desde esse tempo.

Quais foram, então, os principais aspectos do 'plano da redenção' conforme delineado em Three Worlds? Primeiro, como indica o título dessa obra, Barbour viu a história dividida em três grandes períodos, ou 'mundos', além de várias dispensações dentro desses mundos. Isso, porém, não era importante em si mesmo. Antes, o que era significativo era que ele inferiu que se podia calcular as datas das várias eras a partir da cronologia e das profecias da Bíblia e assim determinar o cronograma de Deus para a segunda vinda de Cristo, o arrebatamento dos santos, e a restauração da terra a um paraíso como o Éden.

Barbour não tinha dúvidas de que o bispo James Usher, cuja cronologia era então usualmente impressa nas margens das bíblias King James Version, tinha estado errado nos seus cálculos da idade da humanidade. Ele tinha 'cento e vinte e quatro anos a menos'.29 Sem hesitar perante as dificuldades da cronologia bíblica, Barbour escreveu: 'uma noite passada com a Bíblia, papel e lápis, junto com uma determinação completa para conhecer exatamente o que ela ensina, habilitá-lo-á a dominar todo o assunto, e medir por si mesmo.' Usando este método, ele calculou simplesmente que seis mil anos de história humana tinham terminado no outono de 1873 e declarou que estava prestes a começar uma 'manhã de alegria' para a humanidade. Como um dia para o Senhor é mil anos, segundo o salmista, tinham passado seis 'dias'. O sétimo, o milênio, seria um grande sábado de restituição.30 Igualmente importante era o conceito dos dois pactos das dispensações judaicas e do evangelho. Com a sua aritmética simples, Barbour calculou a idade da dispensação judaica que, acreditava ele, se estendera durante um período de 1845 anos desde a morte de Jacó até à morte de Cristo em 33 E.C. Então, baseando-se na sua interpretação de Isaías 40:2 na King James Version: "Confortai-vos, confortai-vos, meu povo, diz o vosso Deus; confortai Jerusalém e gritai-lhe que a sua guerra [margem: tempo designado] cumpriu-se, que a sua iniquidade está perdoada, pois ela recebeu da mão do Senhor, a dobrar, por todos os seus pecados', ele argumentou que a dispensação do evangelho tem de ser o 'dobro' da mesma extensão de tempo da era judaica. Assim, começando na morte de Cristo, ele defendeu que a era do evangelho tem de terminar em 1878.31

Além disso, como as duas dispensações eram paralelas em todos os sentidos, e os últimos três anos e meio da era judaica, desde o batismo de Cristo até à sua crucificação, tinham sido uma 'época de colheita', o mesmo tem de ser verdade para o período desde o outono de 1874 até à primavera de 1878. Consequentemente, Barbour esperava que os santos fossem levados no arrebatamento neste último ano. Ele estava tão certo disso, que quando elaborou Three Worlds em 1877 escreveu: 'Se tem o espírito de uma criancinha, por favor arranje um grande pedaço de papel, a sua Bíblia e lápis, e comece com Gên. 5:3. Deixe-me dizer-lhe, mais alguns meses e "A Colheita terá passado, o verão acabado."'32

Para fortalecer ainda mais os seus argumentos, ele usou o que era conhecido como o ciclo dos jubileus. Sob a lei mosaica, todo o qüinquagésimo ano era um ano no qual as possessões, quer fossem pessoais ou ancestrais, deviam reverter aos seus proprietários ou aos herdeiros dos seus proprietários. Os escravos também deviam ser libertos. Por isso, Barbour viu no ano do jubileu um tipo para o grande dia de restituição de Deus -- o milênio. Mas ele também o viu como tendo significado para o início da era milenar. Segundo Barbour, se os jubileus tivessem continuado a ser celebrados desde a era judaica até ao seu próprio dia, um ano de jubileu teria ocorrido em 1875, começando (para ser exato) em 6 de abril.33

Ao desenvolver o seu sistema, Barbour foi grandemente influenciado pelo seu velho mentor, William Miller, e incorporou algumas das idéias de Miller no seu sistema. Ele acreditava, por exemplo, tal como muitos outros, que o 'tempo, tempos e metade de um tempo' de Revelação 12:14 tinham terminado em 1798 e que os 2.300 dias (anos) de Daniel 8:14 tinham terminado em 1843. 'O erro de [Miller e] do movimento de 1843 não foi no argumento que prova que os "dias" acabaram ali, mas em assumir que cobriam toda a visão.'34 No entanto, por muito importantes que as idéias de Miller fossem para Barbour, não foram mais importantes do que as do inglês John Aquila Brown.35

Talvez o aspecto mais importante de interpretação profética encontrado em Three Worlds ao qual as Testemunhas de Jeová ainda aderem largamente envolva o cálculo da duração dos 'tempos dos gentios' mencionados em Lucas 21:24. Isso foi algo que intrigou Russell. Depois de o aprender de Barbour, ele publicou um artigo no Bible Examiner de outubro de 1876 intitulado 'Gentile Times: When Do They End?' [Tempos dos Gentios: Quando Terminam?]36 Portanto Russell realmente tornou sua essa interpretação mesmo antes da publicação de Three Worlds. No entanto, na realidade, o sistema de calcular os tempos dos gentios nem se originou com ele, como muitas vezes se crê, nem com Barbour.

De fato, foi John A. Brown quem primeiro explicou o que considerava ser a chave para a duração desses tempos num livro chamado Even-Tide, publicado em Londres em 1823. O que ele propôs foi que o típico reino de Judá tinha caído sob domínio gentio em 604 a.C. Depois disso, não haveria governo de Deus na terra até quatro grandes impérios -- o babilônico, o medo-persa, o macedônio e o romano -- terem o seu domínio. Então Cristo, como herdeiro de Davi, governaria em Jerusalém. Mas quanto tempo passaria antes que esses impérios expirassem? Brown encontrou aquilo que era para ele a resposta no quarto capítulo do livro de Daniel.

Nesse capítulo, Nabucodonosor, o rei de Babilônia, é retratado como tendo tido um sonho de uma grande árvore. Por ordem divina, a árvore foi cortada e uma banda colocada sobre o toco, e não lhe seria permitido crescer novamente até terem passado 'sete tempos'. Quando Daniel interpretou o sonho, foi aplicado diretamente a Nabucodonosor que haveria de passar por sete tempos (anos?) de loucura antes de ser restaurado ao seu trono. Mas Brown viu em Nabucodonosor um tipo da família humana. Antes da sua loucura ele era visto como representante da teocracia judaica; durante a sua loucura foi encarado como um tipo das 'animalescas' nações gentias; e depois da sua recuperação, um tipo do reino messiânico de Jesus Cristo.

Para calcular os 'sete tempos' Brown raciocinou que estes eram sete anos de 360 dias proféticos cada. Usando o princípio ano-dia, ele simplesmente multiplicou 360 dias por sete e chegou a um período de 2.520 anos. Finalmente, contando 2.520 anos desde 604 a.C., chegou ao ano 1917 A.D., que designou como a data para o fim daqueles tempos.37

Barbour decidiu que Brown tinha marcado o início dos sete tempos -- que ele encarava como os tempos dos gentios -- dois anos mais tarde. Ele defendia que os tempos dos gentios tinham começado com aquilo que acreditava ter sido a data da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor. Assim, em vez de usar 1917 como o término para esses tempos, calculando ligeiramente diferente ele marcou-os como tendo a sua conclusão no outono de 1914.38 Nesse ano, o reino de Cristo viria para assumir domínio completo sobre a terra, e os judeus, como povo, seriam restaurados ao favor de Deus. Durante o intervalo entre o tempo em que escreveu Three Worlds e 1914, Barbour esperava que ocorressem muitas coisas. Além do arrebatamento dos santos, ele acreditava que o mundo testemunharia um tempo de tribulação como nunca antes vira.39

Barbour estava muito impressionado pelo seu próprio sistema. Ele declarou que 'não estava disposto a admitir que o seu cálculo estivesse errado nem sequer um ano'. Para ele havia 'esta quantidade de evidência':

Muitos dos argumentos, a maioria deles, de fato, não são baseados na teoria ano-dia, e alguns deles, nem sequer são baseados na cronologia; e no entanto existe harmonia entre todos eles. Se você resolveu um problema difícil em matemática, pode muito bem duvidar se possivelmente não terá feito algum erro de cálculo. Mas se resolveu esse problema de sete maneiras diferentes, todas independentes umas das outras, e em cada um dos casos alcançou o mesmo resultado, seria um louco se continuasse a duvidar da exatidão desse resultado.40

Até George Storrs, um homem há muito tempo hostil a tal estabelecimento de datas escatológico, encarava a cronologia de Barbour como 'a melhor que jamais vi'. Embora ele tornasse claro que não podia concordar com as conclusões a que Barbour tinha chegado, indicou que não tinha qualquer vontade de se lhes opor.41 E não é de admirar que qualquer pessoa vivendo na América do fim do século XIX e impressionada pelas assim chamadas 'provas' matemáticas pudesse encarar Three Worlds como um importante estudo profético, se tivesse a tenacidade de lê-lo. Referindo-se ao sistema de Barbour, tal como adotado por Russell praticamente sem mudança, Timothy White comenta: 'Os padrões cronológicos, profecias e paralelos de Russell são suficientes para desafiar a imaginação. Cada uma das datas 1799, 1874 e 1914 são o resultado de vários métodos de cálculo inteiramente independentes. Todo o sistema torna-se muito harmonioso e equilibrado.'42

Three Worlds é portanto um trabalho muito importante. De fato, contém dentro de si a maior parte das idéias que Russell e aqueles em associação com ele haveriam de promulgar durante os cerca de quarenta anos seguintes. Mesmo hoje, muitos dos conceitos desse livro -- embora freqüentemente, mas nem sempre, alterados de modo importante -- ainda são ensinados pelas Testemunhas de Jeová. Assim Barbour, que na melhor das hipóteses recebe não mais do que uns poucos parágrafos, geralmente hostis, nos relatos costumeiros das Testemunhas sobre a sua história,43 foi e é um dos maiores contribuintes para todo o seu sistema doutrinal.

Cismas Iniciais: 1878 e 1881

Pouco tempo depois, Barbour, Russell e Paton estavam unidos para pregar e publicitar as idéias delineadas em Three Worlds. Russell começou rapidamente a fazer convertidos, incluindo A. D. Jones, um dos seus funcionários, e A. P. Adams, um ministro metodista da Nova Inglaterra. Mas rapidamente surgiram problemas. O pequeno bando de adventistas sem nome esperava, como Three Worlds ensinava, que a primavera de 1878 os veria, como santos escolhidos de Cristo, levados embora para o céu. Quando isso não aconteceu, ocorreu desilusão e divisão.

Russell permaneceu leal aos ensinos expressos em Three Worlds enquanto Barbour enveredou por outra direção. Russell desenvolveu a explicação de que aqueles morrendo no Senhor de 1878 em diante teriam uma ressurreição celestial imediata em vez de terem de dormir nas suas sepulturas; portanto, defendia ele, 1878 foi um ano marcado. Mas Barbour recusou-se a adotar essa solução e começou todo um novo exercício no estabelecimento de datas.44 Além disso, ele tomou então uma posição em conflito com a defendida tanto por Russell como por Paton sobre a natureza da expiação. Segundo Russell: 'O Sr. Barbour pouco depois escreveu um artigo para o Herald negando a doutrina da expiação -- negando que a morte de Cristo fosse o preço de resgate de Adão e da sua raça, dizendo que a morte de Cristo não foi mais um pagamento da penalidade pelos pecados do homem do que a introdução de um alfinete através do corpo de uma mosca, causando-lhe sofrimento e morte, seria considerado por um pai humano como um pagamento justo pelo mau comportamento do seu filho.'45

Russell discordou da nova posição de Barbour e seguiu-se um cisma. Barbour era um homem particularmente orgulhoso, severo, e certamente tinha sido o membro mais proeminente da pequena associação que se tinha formado em 1876. Mas Russell estava determinado a diferir dele naquilo que considerava uma doutrina fundamental. Ele argumentou abertamente contra a posição de Barbour sobre a expiação e obteve o apoio de Paton num artigo que foi publicado no Herald de dezembro de 1878. No início de 1879 a separação entre Barbour -- com A. P. Adams no seu campo -- e Russell e Paton tornou-se completa. Russell acusou Barbour de retirar dinheiro que ele (Russell) tinha depositado e de o tratar como se fosse seu. Então, quando Russell fundou uma nova revista, Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo], Barbour 'derramou sobre o Editor da TORRE os mais vis insultos pessoais'.46 O que se seguiu foi uma batalha entre os ex-associados para ganhar apoio dos que recebiam os dois jornais, pois os leitores deles eram as mesmas pessoas.47 Nesse tempo, Paton, tanto como Russell, servia como líder daqueles que se tinham separado de Barbour. Russell insistiu com Paton para que escrevesse um livro chamado Day Dawn [Aurora do Dia], para substituir Three Worlds, e A. D. Jones concordou em publicá-lo. Contudo, foi principalmente Russell quem empreendeu a luta com Barbour e foi ele que produziu um pequeno livro chamado Tabernacle Teachings [Ensinos do Tabernáculo] em resposta a algumas das críticas que Barbour fizera às suas doutrinas.

Paton não objetou abertamente a qualquer das idéias de Russell; evidentemente ele era um homem muito mais pacífico do que Barbour. Mas também ele começou a produzir artigos que Russell encarava como uma negação da doutrina da expiação como resgate. Consequentemente, em 1881, ele recusou-se a publicar mais artigos de Paton e os dois separaram-se com alguma amargura.48

Em 1881, dos cinco associados principais que tinham tomado uma posição a favor das doutrinas delineadas em Three Worlds, só A. D. Jones continuou em associação com Russell; e mesmo esse relacionamento não resistiu. Com a bênção de Russell, Jones fundou um jornal chamado Zion's Day Star [Estrela do Dia de Sião] na cidade de Nova Iorque. Dentro de um ano, também ele negou a teoria do resgate de Russell e posteriormente haveria de repudiar a própria Bíblia.49

O Ministério Independente de Russell

Pode muito bem ser dito, portanto, que Russell, ainda um jovem com menos de trinta anos de idade, assumiu a liderança daqueles que apoiavam os seus ensinos, não tanto porque o desejasse fazer, mas antes porque se sentiu compelido a manter uma defesa daquilo que considerava ser uma doutrina cristã básica -- a teoria da expiação enquanto resgate ou, de fato, expiação substitutiva. Além disso, ele estava determinado a apegar-se à cronologia de Russell mesmo depois do próprio Barbour ter abandonado certos aspectos dela. Portanto, embora ele pareça não ter tido idéias de grandeza específicas nesse tempo, achava que Deus estava a guiá-lo e dirigi-lo de um modo muito definido.

Que ele não tinha um desejo a longo prazo de se estabelecer a si próprio como um novo profeta americano ou o fundador de uma nova religião, nos anos 1879 até 1881 pelo menos, é evidente a partir da sua escatologia de curto prazo. Novamente baseando a sua conclusão na cronologia de Barbour, ele assumiu que a 'chamada celestial' ou colheita dos supostos '144.000 santos eleitos' de Revelação 7 e 14, terminaria em 1881. Escrevendo em maio de 1881, ele declarou: 'o favor que termina este outono, é o de entrar na companhia da Noiva [os 144.000]. Acreditamos que a porta de favor está agora aberta e qualquer um que consagre tudo e dê tudo, pode vir ao casamento e tornar-se membro da Noiva, mas neste ano a companhia será declarada completa e a porta para essa chamada celestial (não a porta da misericórdia) será fechada para sempre.'50

Melvin Curry escreve: 'O efeito desta predição a curto prazo foi duplo: serviu para desviar a atenção dos Estudantes da Bíblia do desapontamento de 1878 e forneceu um ímpeto para uma maior atividade evangelística';51 não obstante, Russell estava sem dúvida sério em acreditar nessa predição. Pois ele também predisse que em 1881 as igrejas (Babilônia) começariam a desmoronar-se e, mais importante, ele esperava que o arrebatamento dos santos -- dos quais se considerava a si próprio membro -- teria lugar nesse ano.52 Em vez de planear empreender uma grande campanha evangélica para além das três décadas e meia seguintes, ele esperava estar no céu com o seu Senhor.

De fato, em novembro de 1880, ele 'quase criou uma crise' entre os seus seguidores ao sugerir que o arrebatamento ou 'mudança' seria 'invisível para os seres carnais, tal como é Ele [Cristo], e os Anjos.'53 Na edição de dezembro da Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], ele escreveu a respeito da mudança:

Portanto agora, comparando escritura com escritura, tentaremos definir o modo como isto será cumprido. Primeiro, não pensamos que as escrituras ensinam que aqueles que são levados, serão levados para qualquer local (não para o Monte Sião, nem qualquer ponto específico), nem pensamos que aqueles, quando tomados, e durante algum tempo depois disso, serão invisíveis para os à sua volta. Não, acreditamos que, depois de serem tomados, eles serão visíveis e em todo o aspecto exatamente iguais, mas na realidade, eles não serão os mesmos que eram antes de serem tomados, pois, se fossem, então ser tomado não significaria nada.54

Por outras palavras, conforme ele prosseguiu explicando, eles seriam seres espirituais materializados, como o Cristo ressuscitado que tinha aparecido como homem.

Mais tarde, ele mudou novamente a sua posição tanto quanto à natureza como quanto ao tempo do arrebatamento. Escrevendo em maio de 1881, ele disse: 'Quanto a quando a nossa mudança ocorrerá, só podemos dizer: Segundo o nosso entendimento, ocorrerá em qualquer altura depois de 2 de outubro de 1881, mas não sabemos de nenhuma evidência das escrituras quanto a em que tempo seremos mudados de naturais para espirituais, de mortais para imortais.'55 Algumas vezes ele até fez declarações que à superfície parecem ser falsidades descaradas. Por exemplo, na edição de maio de 1881 de Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião] (na página 224 desse jornal conforme reimpresso em forma de volume em 1919), ele declara: 'A TORRE DE VIGIA nunca afirmou que o corpo de Cristo será mudado para seres espirituais neste ano. Tal mudança ocorrerá algures. Nós não tentamos dizer quando, mas dissemos repetidamente que isso não poderia ter lugar antes do outono de 1881.' No entanto, na edição de janeiro de 1881 da mesma revista, na página 180 das reimpressões, A. D. Jones, um 'contribuinte regular' para a Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], tinha escrito: 'No artigo a respeito da nossa mudança, no jornal de dezembro [Zion's Watch Tower (Torre de Vigia de Sião) de dezembro de 1880], nós expressamos a opinião de que isso estava mais perto do que muitos supunham, e embora não tentássemos provar [que] a nossa mudança [ocorreria] em qualquer tempo em particular, ainda assim propomos olhar para algumas das evidencias que parecem mostrar a tradução ou mudança da condição natural para a espiritual, a ocorrer nesta altura ou no outono do nosso ano 1881.' E não pode haver qualquer dúvida que o próprio Russell concordava com Jones. Na página 172 das reimpressões da edição de 1880, ele declara que 'a "chamada celestial" -- para ser a noiva -- o templo[,] terminará no outono de 1881' e depois mais adiante, na mesma página, diz: 'Quando "o corpo", "a noiva", "o templo", ficar assim completo, todos terão sido assim mudados.'

Como pode isto ser explicado? Temos de assumir que Russell foi completamente desonesto? Provavelmente não. Parece, em vez disso, que ele estava a racionalizar tanto para si como para os seus leitores e estava a praticar auto-engano em grande escala. Embora as suas conjeturas escatológicas e posteriores negações das mesmas possam parecer ultrajantes para o leitor comum hoje, eram tão surpreendentemente contraditórias que a explicação mais razoável é que o próprio Russell acreditasse nelas.56 Ele era evidentemente sincero ao acreditar que o seu ministério não duraria mais do que uns poucos anos no máximo.

Mesmo antes, em 1879, o papel de Russell como um líder religioso do fim do século XIX e princípio do século XX, tinha começado a revelar-se. Nesse ano ele casou com uma mulher muito capaz e inteligente, Maria Frances Ackley. Mas não deu consideração à idéia de se estabelecer numa calma vida de casado. Em vez disso, ele e os seus associados estavam atarefados a organizar uns trinta grupos de estudo ou congregações em sete estados entre a costa leste dos Estados Unidos e Ohio. No ano seguinte, ele fez arranjos para visitar essas congregações -- mais conhecidas por eclésias, classes ou igrejas -- para passar sessões de seis horas de estudo com cada uma. Além disso, começou a estabelecer um padrão fixo de reuniões baseado no costume da sua congregação original em Allegheny/Pittsburgh.

Apesar das suas vacilações doutrinais, o seu zelo infatigável e personalidade dinâmica prenderam a atenção de outros numa medida muito maior do que no caso das atividades ou personalidades dos seus associados iniciais. Ele era também notado pela sua grande habilidade em falar e pelo seu entusiasmo e bondade pessoal. Por isso não é surpreendente que fosse em breve reconhecido em geral como o 'Pastor', uma posição para a qual foi eleito pelos seus irmãos em Allegheny/Pittsburgh em outubro de 1876, e mais tarde em muitos outros centros.57

O seu otimismo sem limites e a fé de que Deus estava a dirigi-lo levaram-no a anunciar [o objetivo de] 1.000 pregadores logo em 1881.58 Também, quando um após outro dos seus associados rejeitaram a doutrina da expiação como ele entendia que as Escrituras a ensinavam, começou a escrever uma corrente de artigos, livros, panfletos e sermões, cujo número é enorme.

Ao todo, as suas obras totalizaram cerca de 50.000 páginas impressas, e na altura da sua morte cerca de 20 milhões de cópias dos seus livros tinham sido impressos e distribuídos por todo o mundo.59 Embora ele nunca tivesse tido qualquer treinamento universitário ou seminarista formal -- um fato que os seus adversários nunca lhe permitiram esquecer -- o seu estilo de escrita era razoavelmente bom. As suas obras demonstravam que tinha um amplo conhecimento do mundo em que vivia e de boa parte da literatura contemporânea e histórica.

A partir de 1880, o Pastor Russell e os seus associados começaram a publicar e a distribuir tratados. Em 1881 ele produziu dois pequenos livros: Tabernacle Teachings [Ensinos do Tabernáculo], mencionado acima, e Food for Thinking Christians [Alimento Para Cristãos Reflexivos] que deu, entre outras coisas, um esboço do seu pensamento em assuntos tais como a expiação, a ressurreição, a predestinação e o livre arbítrio, a parousia, e o 'plano das eras' de Deus. Foram distribuídas cerca de 1,45 milhões de cópias de Food for Thinking Christians [Alimento Para Cristãos Reflexivos].60 O que estava a acontecer era que um novo movimento religioso se estava a começar a desenvolver.

Russell, seguindo os passos de George Storrs, a princípio não queria estabelecer outra denominação, nem se considerava a si mesmo como tendo qualquer papel particular para além de ser um pregador e irmão em Cristo. Ele recusou ver-se como um profeta ou uma pessoa divinamente inspirada em qualquer sentido.61 Além disso, ele rejeitou desde cedo qualquer nome denominacional, dizendo que ele e os seus irmãos na fé prefeririam ser conhecidos como membros da 'Igreja de Cristo', não tivesse esse nome sido já tomado por outro grupo.62 Ainda assim, Russell e os seus companheiros crentes estavam postos de parte de muitas maneiras, e portanto estavam a ser obrigados a tornar-se uma organização religiosa separada e distinta.

Eles já tinham começado a desenvolver as suas próprias práticas e formas de governo congregacionais. Tinham-se separado da maioria das igrejas pela sua aceitação do condicionalismo, o entendimento básico da redenção de George Storrs, e pela escatologia pré-milenarista. Depois, através das separações de Barbour e de Paton, elos diretos com o adventismo foram enfraquecidos. Mas se tudo isso não fosse suficiente, em 1882 Russell rejeitou abertamente a doutrina da Trindade e adotou o que é geralmente encarado como uma teologia ariana.63 Assim ele separou-se muito definitivamente de outra forma dos seus anteriores associados, Barbour e Paton, e até de George Storrs, que não tinha sido claro sobre qualquer doutrina respeitante à natureza de Deus.64 Outro modo em que as congregações e indivíduos isolados associados com Russell em breve se tornariam distintos era na sua insistência em tornarem-se uma irmandade pregadora. Na edição de julho-agosto de 1881 de Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], página 241 nas reimpressões, Russell perguntou: 'QUEM DEVE PREGAR? Respondemos', disse ele, 'Todos os que recebem o espírito de unção e são assim reconhecidos como membros do corpo de Cristo'. Assim, esperava-se de todos aqueles que encaravam Russell como seu Pastor que pregassem aos seus vizinhos de todas as formas razoáveis, uma prática seguida pelas Testemunhas de Jeová até hoje. No entanto, ao contrário das Testemunhas, eles não encaravam a pregação como seu dever primário. Em vez disso, estavam interessados em reunir um pequeno rebanho de santos que, através de santificação gradual e desenvolvimento de caráter, se tornariam novas criaturas em Cristo.65 Russell e os seus associados acreditavam que a vasta maioria da humanidade receberia a sua oportunidade de alcançar a salvação durante o milênio. Não havia, por isso, qualquer necessidade de pregar a todos. A conversão dos pagãos nesse tempo era difícil, embora não impossível, ao passo que a conversão dos judeus, na maioria dos casos pelo menos, teria de esperar até depois de 1914.66

Ao longo dos anos seguintes, Russell tornou-se bem conhecido por todo o mundo ocidental. Usando a sua riqueza pessoal, em 1886 publicou o volume I de Millennial Dawn Series [Série da Aurora do Milênio] ou os Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]. Esse livro, que se tornou conhecido como The Divine Plan of the Ages [O Plano Divino das Eras], teve larga circulação; até à data da morte de Russell tinham sido distribuídas 4.817.000 cópias.67 Em 1889 ele produziu o volume II, The Time Is at hand [O Tempo É Iminente]; em 1891, o volume III, Thy Kingdom Come [Venha o Teu Reino]; em 1897, volume IV, The Battle of Armageddon [A Batalha do Armagedom]; em 1899, o volume V, At-one-ment between God and Man [Expiação entre Deus e o Homem]; e em 1904, o volume VI, The New Creation [A Nova Criação]. Ao longo do mesmo período, a Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião] foi distribuída ainda mais extensamente, e numerosos colportores distribuíram livros, folhetos e tratados da Watch Tower [Torre de Vigia] por toda a América e em outras terras. Em 1881, já tinham sido enviados a Inglaterra dois missionários,68 e poucos anos


A Tabela das Eras de Russell (retirado de The Divine Plan of the Ages [O Plano Divino das Eras])

mais tarde, os Estudantes da Bíblia, como se chamavam a si mesmos nessa época, começaram a organizar congregações no Canadá.69 Na altura da Primeira Guerra Mundial eles encontravam-se em muitas terras.

Tornou-se necessária maior organização ao longo dos anos. Para preencher essa necessidade, em 1884 Russell incorporou a Zion's Watch Tower Tract Society, agora conhecida como Watch Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pennsylvania]. Anos mais tarde, quando ele mudou a sede da sociedade para Brooklyn, Nova Iorque, outra corporação, a People's Pulpit Association [Associação do Púlpito do Povo], agora Watchtower Bible and Tract Society of New York, Incorporated, foi formada em 1909. Em 1914 foi estabelecida uma corporação britânica conhecida como International Bible Students Association [Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia].

Russell não se tornou conhecido -- e os Estudantes da Bíblia não cresceram em número -- apenas em resultado da distribuição da literatura da Watch Tower; ele provou ser um evangelista espantosamente ativo que fez numerosas viagens por todo o território dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Europa e à volta do mundo. Ele envolveu-se em importantes debates com dois pregadores proeminentes, Dr. E. L. Eaton da Igreja Metodista Episcopal e L. S. White dos Discípulos de Cristo.70 A partir da primeira década do século XX, os seus sermões passaram a ser impressos em milhares de jornais que eram lidos por quinze a vinte milhões de pessoas semanalmente.71 Além disso, ele falou freqüentemente em convenções dos Estudantes da Bíblia que, particularmente de 1893 em diante, se tornaram numa característica regular da vida dos Estudantes da Bíblia.

Finalmente, nos últimos anos da sua vida, sob a sua direção a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] produziu o 'Photo-Drama of Creation' [Foto-Drama da Criação], um programa que combinava slides pintados à mão e imagens móveis, sincronizado com discos fonográficos que continham discursos gravados e música. Só nos Estados Unidos, o 'Foto-Drama' foi visto por cerca de dez milhões de pessoas durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Na tempo em que Russell morreu, ele tinha-se tornado Pastor e principal porta-voz para um movimento internacional com milhares de membros.

A Associação dos Estudantes da Bíblia

O movimento que Russell organizou a princípio tinha poucas das marcas organizacionais de uma seita ou denominação. Tal como George Storrs, Russell detestava as igrejas da cristandade, vendo-as como Babilônia, a Grande. Ainda assim, ele achava possível ser um membro gerado pelo espírito da verdadeira igreja -- a igreja de Cristo -- enquanto ainda membro de uma das igrejas da cristandade. Contudo, depois de reconhecer que 'a simplicidade maior de Cristo' não era geralmente observada exceto entre os membros da Associação dos Estudantes da Bíblia, era necessário que os verdadeiros cristãos deixassem a cristandade nominal -- particularmente depois de 1881 -- e se associassem primariamente com outros verdadeiros cristãos, membros da Nova Criação -- os Estudantes da Bíblia. Mas tal associação devia ser inteiramente livre e voluntária. Ao descrever a natureza das congregações dos Estudantes da Bíblia em 1915, Russell declarou:

Em certa ocasião fui abordado por um ministro da igreja Reformada. Ele queria saber como é que eu administrava a minha igreja. Eu disse-lhe: 'Irmão --, eu não tenho igreja.' Ele disse: 'Sabe o que quero dizer.' Respondi: 'Também quero que saiba o que quero dizer. Nós afirmamos que só há uma igreja. Se o senhor pertence a essa igreja, pertence à nossa igreja.' Ele olhou-me com surpresa. Depois disse: 'O senhor tem uma organização; quantos membros há nela?' Respondi: 'Não sei dizer; nós não mantemos listas de membros.' 'Vocês não mantêm qualquer lista dos membros?' 'Não. Nós não mantemos qualquer lista; os nomes deles estão escritos no céu.' Ele perguntou: 'Como é que o senhor tem a sua eleição?' Eu disse: 'Nós anunciamos uma eleição; e todo e qualquer do povo de Deus, que seja consagrado e se costume reunir conosco nesta companhia, ou congregação, pode ter o privilégio de expressar o seu julgamento sobre quem seria a preferência do Senhor para anciãos e diáconos na congregação.' 'Bem,' disse ele, 'isso é a própria simplicidade.' Eu acrescentei: 'Nós não pagamos salários; não há nada para fazer as pessoas disputar. Nós nunca fazemos coletas.' 'Como é que conseguem o dinheiro?', perguntou ele. Respondi: 'Ora, Dr. --, se eu lhe disser a verdade mais simples o senhor dificilmente conseguirá acreditar nela. Quando as pessoas se interessam por este caminho, não encontram qualquer cesto colocado sob o seu nariz. Mas elas vêem que há despesas. Elas dizem a si mesmas: "Este salão custa algo, e vejo que é servido um almoço grátis entre as reuniões para aqueles que vivem a alguma distância. Como é que posso dar algum dinheiro a isto[?]"' Ele olhou-me como se pensasse: 'Por quem me toma -- por um ingênuo?' Eu disse: 'Ora, Dr. --, estou a dizer-lhe a verdade nua e crua. Eles fazem-me esta mesma pergunta: "Como é que posso dar algum dinheiro a esta causa?" Quando uma pessoa recebe uma bênção e tem algum meio, ele quer usá-lo para o Senhor. Se não tem meios, por que deveríamos picá-lo por isso?'

Não há nada de onde sair, como organização, se uma pessoa for um Estudante Internacional da Bíblia. Não se pode sair de algo para o qual não se entrou. Se alguém me puder dizer como é que entrou em Babilônia por se ter interessado nos assuntos da Watch Tower Bible and Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados], que me mostre como e ele sairá, e eu sairei com ele.72

Conforme Russell indicou, todos os anciãos e diáconos dos Estudantes da Bíblia nas suas congregações eram eleitos. Se a maioria da congregação não achava que eles estavam a ensinar ou a comportar-se corretamente, tinha o direito de não os eleger novamente para o cargo no ano seguinte.73 E se houvesse um cisma? Aqueles que discordavam da maioria podiam simplesmente formar outra eclésia e podiam continuar em associação com os Estudantes da Bíblia, desde que não negassem doutrinas fundamentais. É claro que, depois de terem deixado a sua anterior eclésia, não deviam interferir com as suas atividades.74

A disciplina da igreja não era direito nem responsabilidade de quaisquer funcionários em eclésias locais ou entre os Estudantes da Bíblia, mesmo incluindo o próprio Russell. Quando interrogado sobre se os anciãos se podiam sentar num tribunal de inquirição, ele foi brusco: 'A palavra do Senhor não autoriza que qualquer tribunal de Anciãos, ou de qualquer outra pessoa, se tornem abelhudos. Isto seria voltar às práticas da Idade das Trevas durante a inquisição; e nós estaríamos mostrando o mesmo espírito dos inquisidores.'75 Vez após vez Russell colocou o maior valor na liberdade cristã e no direito de todos serem dirigidos pela sua própria consciência.76

Que dizer das dificuldades nas várias congregações de Estudantes da Bíblia? Russell acreditava que a maioria dos problemas podiam ser resolvidos por amor e nunca se deveriam tornar assuntos sérios. Contudo, se houvesse um assunto grave, os indivíduos deveriam ser guiados pelo conselho de Jesus em Mateus 18:15-18. Segundo esses versículos, se um irmão pecasse contra um membro da congregação, este deveria contatar o outro pessoalmente para resolver o assunto. Se isso falhasse, ele podia tomar outros dois ou três para averiguar os fatos e procurar a reconciliação. Só se esse segundo passo falhasse é que ele levaria o seu caso perante toda a congregação para julgamento. Se o irmão em erro não se arrependesse então do seu pecado, aquele contra quem se pecou e a eclésia deviam tratá-lo legitimamente como um 'homem pagão e um publicano' -- isto é, como se não fosse cristão de modo nenhum.77

E se o pecado de uma pessoa fosse contra a eclésia como um todo? Seguindo os passos acabados de enunciar, uma pessoa podia, se não se arrependesse, ser desassociada da congregação. Mas Russell reconheceu que as maiorias podiam estar tão erradas como os indivíduos e enfatizou a necessidade de unanimidade quase completa na congregação ao privar uma pessoa da associação cristã.78 Mesmo se uma pessoa fosse desassociada por uma eclésia particular, isto não significava que ela era ostracizada em todas as circunstâncias sociais ou por todos os outros Estudantes da Bíblia. Assim, a disciplina era moderada e mantida em não mais do que o mínimo para preservar a harmonia pessoal e congregacional. Para além disso, Russell e os Estudantes da Bíblia recusavam-se a ir, pelo menos em teoria.

Russell também acreditava em muita tolerância e latitude na crença. Comentando Romanos 14:5: 'esteja cada [homem] plenamente convencido na sua própria mente', em New Criation [Nova Criação], ele reconheceu que embora a unidade cristã fosse importante, era essencial notar que a uniformidade doutrinal não devia ser imposta: 'O povo do Senhor não só tem cabeças desenvolvidas de modo diferente, e diferenças em experiência e educação, mas além disso eles têm idades diferentes como Novas Criaturas -- bebês, jovens, maduros.' É claro que todos tinham de reconhecer e concordar com certas doutrinas: 'Eles têm de compreender os [aspectos] fundamentais -- que todos eram pecadores; que Cristo Jesus, nosso Líder, nos redimiu pelo seu sacrifício consumado no Calvário[,] que estamos agora na Escola de Cristo para sermos ensinados e equipados para o Reino e o seu serviço; e que ninguém entra nesta Escola exceto depois de uma completa consagração de todo o seu ser para o Senhor.'79 Para além disto, havia grande liberdade. Mesmo o batismo em água não era absolutamente necessário,80 e cada um devia ter o direito de expressar os seus sentimentos em todas as questões doutrinais de uma maneira ordeira.81 Ninguém devia deixar de o reconhecer como irmão, a menos que ele se recusasse a concordar com os poucos aspectos fundamentais. Por isso, Russell e os Estudantes da Bíblia tomaram como seu lema não oficial: 'Nos aspectos essenciais, unidade; nos não essenciais, caridade.'82

Apesar de não querer tornar-se um líder religioso autoritário, Russell tornou-se um líder religioso dominante. Afinal era ele que tinha tomado a iniciativa de pregar no período de 1877 a 1881; e quando se separou dos seus anteriores associados, Barbour, Paton e os outros, foi só ele que teve o ímpeto, a habilidade pessoal, e o dinheiro para desenvolver um movimento religioso significativo. Além disso, como ele continuava a dirigir a Zion's Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia de Sião] depois da sua incorporação em 1884, foi ele que pôde manter o controlo sobre o que era publicado na literatura dos Estudantes da Bíblia, sobre as atividades dos colportores que distribuíam essa literatura,83 e sobre as atividades de pregadores viajantes chamados 'peregrinos'84 que, depois de 1894, visitavam regularmente as congregações dos Estudantes da Bíblia. Embora ele não usasse intencionalmente a Sociedade como uma agência centralizada -- ele encarava-a como não mais do que uma organização de negócios -- ainda assim ela teve tendência a tornar-se o veículo através do qual os Estudantes da Bíblia passaram a ser soldados numa comunidade religiosa mais coesa.

À medida que o tempo foi passando, Russell também teve tendência a impor cada vez mais os seus próprios ensinos aos Estudantes da Bíblia. Isso não foi porque ele estivesse sedento de poder, mas simplesmente porque acreditava tão firmemente que tinha descoberto a 'verdade atual' e queria que outros a conhecessem. Em 1895 ele sugeriu que as eclésias estudassem parágrafo por parágrafo os seus volumes de Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] publicados até esse tempo.85 Em 1905 ele estabeleceu o que eram conhecidos como Estudos Bereanos -- estudos direcionados em vários tópicos escolhidos pelo próprio Russell para todo o movimento. Em resultado disso, o estudo da Bíblia versículo por versículo foi substituído em praticamente todas as congregações pelos Estudos Bereanos que, portanto, significavam que Russell podia exercer maior controlo sobre as crenças dos seus seguidores.86

Em 1910 Russell ensinou, e sem dúvida acreditava, que os seis volumes de Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] 'eram praticamente a Bíblia ordenada por tópicos.'87 Embora isto fosse um exagero grosseiro, pelo qual foi severamente censurado,88 duas coisas devem ser reconhecidas: (1) Russell, embora autor dos seis volumes, não era o originador da maior parte das idéias neles, e (2) embora ele acreditasse que os Estudos Bereanos eram superiores ao estudo 'livre' da Bíblia, deu liberdade a cada eclésia para decidir que sistema adotaria.89 O seu poder era persuasivo em vez de coercivo, em nítido contraste com a política atual da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia].

Contudo, havia um grande perigo naquilo que Russell estava a fazer. Em The Watch Tower [A Torre de Vigia] de Janeiro de 1913 ele escreveu: 'Nós não paramos para perguntar o que o Irmão Calvino ou o Irmão Wesley ensinaram, nem o que outros ensinaram antes ou depois deles. Nós recuamos até aos ensinos de Cristo e dos apóstolos e profetas, e ignoramos todos os outros ensinos. É verdade que todas as denominações alegam mais ou menos a mesma coisa, mas eles estão mais ou menos impedidos de o fazer devido às suas tradições e credos. Eles vêem através de lentes coloridas. Nós ignoramos tudo isso e esforçamo-nos para ver as palavras de inspiração somente à luz do contexto, ou à luz refletida de outras passagens das Escrituras.'90 De fato, ele estava a praticar auto-engano em grande escala, e os Estudantes da Bíblia, tanto como quaisquer outros, estavam a olhar através de 'lentes coloridas'. Conforme Timothy White diz: 'Os comentários dele tornaram-se para muitos como os credos que ele tanto desprezava'.91

Russell como o Servo Fiel e Sábio

Uma das principais razões porque Russell se estava a enganar a si próprio era que, apesar das suas boas intenções e falta de disposição para assumir o papel de profeta, depois de 1895 ele detinha uma posição entre os Estudantes da Bíblia que era mais do que apenas a do seu Pastor. O que aconteceu foi que a Sra. Russell, que nesse tempo defendia vigorosamente o seu marido contra os anteriores associados, inventou uma nova doutrina a respeito de Mateus 24:45-47. Esse texto, na King James Version, diz: 'Quem é, então, o servo fiel e sábio, a quem o seu senhor fez governante sobre os seus domésticos, para lhes dar alimento na época devida? Abençoado é aquele servo, a quem o seu senhor encontrar, quando vier, a fazer isso. Em verdade vos digo, que ele o fará governante sobre todos os seus bens.' E Maria Russell decidiu aplicar o termo 'servo fiel e sábio' da ilustração de Jesus ao seu marido.

Anteriormente, Russell tinha defendido que 'esse servo' era realmente uma ilustração para a igreja -- o pequeno rebanho de 144.000 mencionados em Revelação 7 e 14.92 Mas a sua esposa apontou para o fato de o 'servo' ser singular, enquanto a igreja, os 'domésticos' [ou casa] da fé, ser plural. Além disso, se a igreja era 'aquele servo' e também os 'domésticos', acabaria por se estar a servir a si própria. Escrevendo em dezembro de 1895, Maria Russell enfatizou fortemente o seu ponto a George Woolsey, um Estudante da Bíblia de Nova Iorque:

Mas quando chegamos a Mat. 24:45-51, parece-me ser um caso totalmente diferente [de Revelação 16:15]. Aqui são trazidos à nossa atenção -- 'aquele servo', 'os seus co-servos' e os 'domésticos'. Ora, se o Senhor desejasse indicar um servo principal da verdade, e co-servos assistindo-o em servir o alimento na época devida à casa da fé, ele não podia ter escolhido linguagem mais precisa para transmitir esse pensamento. E, pelo contrário, ignorar tal ordem e razoabilidade no relato, na minha mente lança toda a narrativa em confusão, tornando os 'servos' (plural) e 'aquele servo' termos intercambiáveis.93

Depois ela continuou argumentando que como Cristo estava presente e tinha assumido o seu cargo de rei em 1878, a casa da fé estava sendo ricamente aprovisionada com 'alimento no tempo apropriado' por um servo.94 Ela não teve de dizer especificamente a quem se referia.

Russell foi um pouco cauteloso em adotar a doutrina da sua mulher, provavelmente porque tinha sido acusado há pouco tempo de ser autoritário. Não obstante, ele estava sem dúvida lisonjeado pelo novo e aumentado papel que ela, pela sua exegese, tinha criado para ele. Assim ele aceitou a lógica da sua interpretação, e os seus próprios escritos começaram a fazer declarações ligeiramente veladas no sentido de ele ser 'aquele servo'.95 É verdade que Russell nunca se chamou a si próprio o 'servo fiel e sábio' publicamente. Também, ele estava convencido que se 'aquele servo' se tornasse infiel e indiscreto, Deus lançá-lo-ia fora.96 Para ele o papel de 'servo' era um serviço amoroso, não uma superintendência arrogante. No entanto, é certo que ele se encarava a si próprio como o 'servo fiel e sábio', apesar dos comentários da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] durante as últimas décadas que dizem o contrário.97 A Edição Memorial da The Watch Tower [A Torre de Vigia] de 1.º de Dezembro de 1916 tornou isto explícito: 'Milhares de leitores dos escritos do Pastor Russell acreditam que ele preencheu o cargo daquele "servo fiel e sábio", e que o seu grande trabalho foi dar à casa da fé o alimento na época devida. A sua modéstia e humildade impediram-no de reivindicar abertamente este título, mas ele admitiu isso em privado.'98

Outro título que lhe foi dado pelos seus seguidores foi o 'Mensageiro Laodicense'. Segundo Three Worlds, as sete igrejas da Ásia Menor mencionadas nos primeiros três capítulos de Revelação representavam a igreja de Cristo como um todo durante diferentes eras. A igreja laodicense era vista como um tipo da 'última fase da igreja'.99 Consequentemente, como os Estudantes da Bíblia acreditavam que a última fase tinha começado em 1874, e Russell estava sendo usado como porta-voz escolhido de Jeová para a exposição de 'novas verdades' para a igreja, ele era, por definição, o 'Mensageiro Laodicense'.100 Um terceiro título dado a Russell era 'o homem com o tinteiro'. Em Ezequiel 9, o profeta teve uma visão de seis homens com armas de matança nas suas mãos e um sétimo homem com um tinteiro de escritor no seu lado. O sétimo homem devia colocar uma marca nas testas dos habitantes de Jerusalém que estavam suspirando e chorando por causa das abominações cometidas na cidade. Outros que não fossem marcados dessa forma deviam ser mortos pelos seis homens com armas. Os Estudantes da Bíblia acreditavam que esta visão teria um cumprimento antitípico durante a segunda presença de Cristo, e Russell era portanto visto como aquele marcando os que suspiravam e choravam devido às abominações cometidas na antitípica Jerusalém, ou Cristandade.101

Com efeito, para os Estudantes da Bíblia, o Pastor Charles Taze Russell tornou-se o porta-voz de Deus, o seu canal, dispensando alimento espiritual de um modo que nenhum outro podia.102 Conforme notado, Russell sempre acreditou que o alimento tinha de ser bíblico, e num sentido real ele sempre tentou manter a tradicional doutrina sola scriptura -- só a Bíblia -- do protestantismo. No entanto, ao lhe conferirem um papel de ensino especial, os Estudantes da Bíblia (e o próprio Russell) estavam a começar a adotar algo semelhante ao conceito Católico Romano de um magisterium do papado.

As Tribulações Maritais de Russell

Apesar de sucesso e adulação, Russell não escapou a problemas ou a críticas amargas. Durante a sua vida, ocorreram dois cismas agudos entre os Estudantes da Bíblia: o primeiro em 1894 que resultou do sentimento entre alguns dos seus co-trabalhadores de que ele era demasiado dominador; o segundo em 1908 e 1909 devido ao assunto doutrinal do Novo Pacto. Muito mais dolorosa, porém, foi a sua separação da esposa em 1897, o julgamento que legalizou essa separação em 1906, e a amargura que se seguiu. A separação de Russell da sua esposa infelizmente ocasionou e continua a ocasionar ataques severos e largamente injustos à sua reputação. Um exame de perto sobre o que ocorreu a partir de documentos originais103 demonstra esse fato claramente.

Durante muitos anos Maria Russell foi uma apoiante leal do seu marido; ela até serviu como secretária-tesoureira da Zion's Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia de Sião]. Quando ocorreu o cisma de 1894, ela dirigiu uma digressão de palestras às congregações de Estudantes da Bíblia em defesa de Russell. Mas pouco depois os dois desentenderam-se. Logo desde o início, o relacionamento entre eles era de certa forma pouco saudável, pela maioria dos padrões. Quando casaram, eles tinham entrado num acordo de que a sua união não devia ser consumada nesse tempo, nem deviam coabitar no futuro.104 Tomado com base no seu entendimento de Mateus 19:12 e numa atitude Vitoriana em relação ao sexo, [o acordo] sem dúvida causou alguma tensão entre eles. Russell parecia não ter problema, pois evidentemente ele tinha pouco interesse num relacionamento físico. Ele parece ter tido pouca libido, talvez devido à sua preocupação constante com assuntos religiosos. No entanto, ele declarou que se a sua esposa lhe tivesse pedido, ele teria cumprido as suas obrigações para com a sexualidade dela.105 Ele simplesmente 'preferia viver uma vida de celibatário'. Mas o caso deve ter sido muito diferente com ela. Embora ela 'concordasse e expressasse o mesmo como sua preferência', no seu julgamento para divórcio de comida e cama, o advogado dela 'tentou concluir disso que ela foi privada de um dos maiores prazeres da vida'.106 Desta declaração e dos acessos de ciúmes dela, pode-se reconhecer que Maria Russell era, compreensivelmente, uma mulher sexualmente frustrada. Estranhamente, quase ninguém que discutiu as dificuldades maritais de Russell lidou com qualquer destes detalhes, embora o Pastor Russell o tenha feito de forma muito cândida.

Mas as dificuldades sexuais não eram a causa direta da sua discórdia. Antes, a causa era o desejo de Maria de um maior reconhecimento e autoridade, ligado a uma disputa de família sobre assuntos de dinheiro. Pelo menos em 1894, estava a começar a desenvolver-se entre os Russells uma séria tensão. Maria estava a tornar-se profundamente ciumenta em relação a qualquer atenção que o seu marido mostrasse para com outras mulheres, incluindo Rose Ball, uma rapariga adolescente a quem os Russells encaravam quase como uma filha adotiva.107 Além disso, Maria ressentiu-se daquilo que considerava ser a falta de respeito de Russell por ela. Ela era uma pessoa com muito mais educação do que ele. Não só se tinha graduado da escola secundária, como também recebeu treino de professora na Pittsburgh Curry Normal School. Por isso ela estava habilitada para ajudar o seu marido na redação da Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], escreveu numerosos artigos para esse jornal, e foi co-autora dos primeiros quatro volumes de Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras].108 Não obstante, talvez porque não havia um relacionamento íntimo entre eles, ele mostrava pouco interesse por ela exceto como uma assistente de redação e edição. Por isso ela passou a sentir que ele não tinha mais consideração por ela do que por uma criada.109

Alguns dos que se envolveram na revolta de 1894 contra a autoridade de Russell, que resultou em cisma, simpatizaram com Maria e tentaram recrutá-la para a sua causa. Segundo o Pastor, estes 'conspiradores tentaram semear discórdia no coração da minha esposa através de lisonja, argumentos sobre os direitos das mulheres, etc.'110 Mas na realidade eles provavelmente apenas acharam que ele era desnecessariamente condescendente para com ela -- o que parece ser justificado. No entanto, quando os críticos de Russell dentro da Sociedade o atacaram abertamente para expor os seus problemas maritais, foram demasiado longe: Maria permaneceu lealmente, embora não estivesse a ser totalmente honesta, ao lado do marido. 'O nosso lar', disse ela, 'longe de ser um lar discordante, é o exato oposto, -- muito feliz.'111 Ela também defendeu o caráter moral do pastor e empreendeu a digressão mencionada anteriormente para falar a favor dele. E foi depois do seu regresso em dezembro de 1895 que ela indicou abertamente que acreditava que ele era o 'servo fiel e sábio' de Mateus 24:45-47.112

No entanto, mesmo quando Maria estava defendendo e promovendo Russell publicamente, os dois estavam em disputa amarga. Segundo a declaração juramentada dela, em 1895 Russell propôs uma separação: 'Ele propôs, com base em incompatibilidade, que nos separássemos', afirmou ela, 'e se eu fizesse isso, ele dar-me-ia aquela casa na qual estávamos vivendo, e quando eu recusei a sugestão, ele disse que se eu não concordasse com isso, não receberia nada.'113

Sem dúvida o comportamento de Russell em relação à esposa nesta ocasião foi cruel, e as suas próprias declarações mostram que ele tinha uma opinião exaltada de si mesmo nas suas relações com ela.114 No entanto, ela também parece não ter estado sem séria falta durante esse tempo. Ele tinha chegado a um ponto de exasperação extrema, acreditando que ela lhe queria dizer o que fazer no seu ministério. 'Eu era', declarou ele, 'continuamente assediado com sugestões para alterações nos meus escritos.'115

Parte do problema era, claro, que Russell e a sua mulher tinham opiniões muito diferentes sobre a natureza do papel de uma mulher no casamento. Ele era um tradicionalista e, condizente com as atitudes comuns entre os cristãos americanos do seu tempo, acreditava que as esposas tinham a obrigação de estar subordinadas aos seus maridos. Ela, em contraste, estava a tornar-se de certa forma uma feminista. Falando acerca dela em 1895 e pouco depois, ele disse mais tarde: 'as idéias dos direitos das mulheres e a ambição pessoal começaram a vir ao de cima, e eu percebi que a campanha ativa da Sra. Russell em minha defesa, e a recepção muito cordial que lhe foi dada pelos queridos amigos [...] fizeram-lhe mal por aumentarem o seu auto-apreço.'116 Deste ponto de vista, portanto, a desaprovação dele em relação às idéias e comportamento dela não só era própria mas também, como cabeça cristão dela, era um dever. Ela, claro, não via as coisas desse modo. Escrevendo em 1906 numa pequena apologia chamada The Twain One [O Par], ela argumentou a favor da igualdade dos sexos e defendeu que as mulheres deviam corretamente servir como instrutoras na igreja. Pensando com toda a probabilidade no seu próprio casamento, ela declarou: 'Se alguém na igreja se torna impulsivo, a igreja precisa de ter cuidado. Ou se o marido cristão, desencaminhado pelo adversário através do orgulho, ou egoísmo, ou amor do poder, pretender assim dominar a sua esposa e interferir com a suprema aliança dela com Deus, então a esposa cristã tem de se acautelar, e não se deixar encantar através de uma "humildade voluntária" que colocaria sob um jugo de servidão ao pecado uma alma a quem Cristo fez livre.'117

Em 1896 Maria Russell enfrentou outro problema, de sua própria autoria. Se Russell era o 'servo fiel e sábio' de Mateus 24:45-47 como ela tinha postulado, como é que ela podia tomar uma atitude tão negativa em relação à autoridade dele? A resposta é que ela rapidamente chegou à conclusão de que ele estava a tornar-se o 'servo mau' descrito nos quatro versículos seguintes do mesmo capítulo. O relato de Russell diz:

Gradualmente a interpretação dela sobre 'aquele servo' influenciou-lhe a mente. Primeiro ela sugeriu que tal como no corpo humano há dois olhos, dois ouvidos, duas mãos, dois pés, etc., isto poderia representar apropriadamente o par -- ela e eu como necessariamente um no casamento e no espírito e no Senhor. Mas a ambição não parou aqui -- (é uma planta de crescimento pouco parcimonioso). Dentro de um ano a Sra. Russell tinha concluído que a última parte da declaração (nomeadamente, Mateus 24:45-51) não era meramente um aviso, mas teria cumprimento real -- que isso significava que o seu marido cumpriria esta descrição, e que ela em conseqüência tomaria o seu lugar como 'aquele servo' em dispensar alimento na época devida.118

É impossível dizer se a declaração de Russell é inteiramente verdadeira ou não. No entanto, parece razoável acreditar que ele estava a apresentar os fatos. Maria foi a originadora da doutrina do 'servo fiel e sábio' e mais tarde defendeu que ele se tornara infiel a esse cargo. Também, ela pensava que era capaz de fazer tudo o que ele tinha feito como 'aquele servo'. Ainda assim, não há evidência de que ela tenha alguma vez aplicado abertamente o título a si mesma.

No início de 1897 a fratura entre os dois ampliou-se, e Maria organizou 'um comitê [da igreja] segundo as instruções de Mat. 18:17' para ouvir acusações contra Russell. Além de levantar a questão de saber se ela tinha ou não o direito de publicar artigos não censurados na Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião] -- um assunto sobre o qual os dois tinham estado a discutir -- ela levantou dois assuntos adicionais. Primeiro, ela e a irmã, Emma Ackley Russell, acusaram o Pastor de ter influenciado impropriamente o seu pai, Joseph Russell, ao preparar o testamento. Joseph tinha casado com Emma alguns anos antes e tinha tido uma filha dela na sua velhice. Mas quando ele quis preparar um testamento, tinha-se voltado para o filho para conselho -- um fato que tinha enfurecido Emma. Ela evidentemente acreditava que o seu enteado, que também era seu cunhado, estava a tentar enganá-la e à sua criança, e Maria concordou. Segundo, Maria acusou Russell de ter falhado em mostrar o devido respeito a ela numa certa reunião.119

Russell respondeu que o testamento ofensivo tinha sido destruído algum tempo antes para aplacar Emma e era por isso um assunto morto. Quanto à sua suposta rudeza para com a esposa na reunião em questão, ele afirmou que tinha pedido perdão cinco vezes anteriormente, e ela já o tinha perdoado cinco vezes. Sem surpresas, o comitê inteiramente constituído por homens ficou do lado do Pastor. Eles devem ter ficado desconcertados pelas respostas de Russell às acusações contra ele, e um deles, W. E. Page, de Milwaukee, Wisconsin, deve ter ficado mais do que um pouco perturbado por ter sido trazido de centenas de milhas de distância para mediar aquilo que era pouco mais do que uma disputa doméstica. Quanto à questão da exigência da Sra. Russell de que lhe fosse permitido escrever o que desejasse na Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], eles 'disseram-lhe delicadamente mas muito claramente que nem eles nem quaisquer outras pessoas no mundo tinham o direito de interferir com a Administração da TORRE DE VIGIA pelo Irmão Russell: que isso era apenas uma incumbência dele, e só ele era responsável pela sua administração.'120

Embora os Russells se tenham beijado e feitos as pazes, as tréguas entre eles não duraram muito. A pedido dela, ele pô-la a mandar numa reunião semanal de mulheres da igreja dos Estudantes da Bíblia de Allegheny. Assim, ela tornou-se a líder de um grupo de mulheres que depressa se tornou um centro de descontentamento contra o Pastor. Evidentemente, também, Maria foi apoiada pelas suas irmãs, Emma Russell, Lena Guibert e Laura Raynor, em levar a cabo uma campanha de boatos contra ele e em declarar que elas já não eram mais membros da igreja de Allegheny.121

Quando Russell soube do que se estava a passar, tomou ação drástica. Em clara violação dos seus próprios princípios declarados, ele convocou algumas das mulheres apoiantes da sua esposa perante uma reunião do corpo de anciãos da igreja de Allegheny para acusá-las de calúnia. Usando o argumento de que Maria e as suas irmãs se tinham retirado da igreja, ele excluiu-as da reunião. Em seguida, ele escreveu cartas iradas ao seu pai, a Emma Russell e a Laura Raynor, nas quais lhes pediu que 'não recebam, nem abriguem, nem recebam como hóspede a minha esposa sob o vosso teto sob nenhum pretexto'. Assim ele tentou de forma bem sucedida afirmar a sua autoridade tanto na congregação como na sua própria casa; e os Russells tentaram de novo outra reconciliação. Em setembro de 1897 Russell, Maria e as suas irmãs assinaram um acordo escrito para esquecer as ofensas passadas e para se tratarem uns aos outros com bondade. Mas em 9 de Novembro do mesmo ano, Maria deixou a sua casa marital, para nunca mais voltar.122

Ela viajou imediatamente para Chicago, onde tentou de novo lançar acusações contra Russell perante aquela que era a segunda maior congregação de Estudantes da Bíblia no mundo. Quando não conseguiu realizar nada ali, ela propôs voltar para o seu marido. Mas ele recusou recebê-la, a menos que ela concordasse com as suas condições. Em janeiro de 1899, ela regressou a Allegheny para viver com a então viúva Emma Russell e para renovar os seus ataques públicos ao Pastor. Quinze meses depois os Russells fizeram as pazes novamente e Maria mudou-se para uma casa de hóspedes que era propriedade de Russell, perto da casa da sua irmã. Embora recusasse apoiá-la diretamente, ele forneceu-a de mobiliário e permitiu-lhe viver dos proveitos que ela podia obter de vários hóspedes.

Embora estivessem a viver separados, as tréguas entre eles não duraram muito. Entre abril de 1899 e os meses iniciais de 1903, Maria Russell pôs de lado dinheiro suficiente para preparar, imprimir e publicar um tratado que era um relato das suas relações com o seu marido ao longo dos anos e era mais um ataque amargo contra ele. Nesse tratado ela publicou correspondência entre eles e tentou, com algum sucesso, retratá-lo como um tirano arrogante. Para tornar as coisas piores, ela distribuiu tratados a todos os Estudantes da Bíblia que pôde alcançar e enviou pacotes adicionais de tratados a vários clérigos, com uma nota dizendo que eles deviam pôr os tratados em circulação entre os Estudantes da Bíblia em todos os lugares onde isso fosse possível.

Russell ficou furioso, para dizer o mínimo, e decidiu punir a esposa pela sua ação. Algures em meados de março de 1903, ele e vários associados da Casa da Bíblia, a sede da Torre de Vigia, tomaram posse da casa dos hóspedes na qual ela e quatro ou cinco hóspedes viviam, e removeu todos os pertences pessoais deles. Russell até chegou ao ponto de tomar a bolsa da sua esposa com todo o dinheiro de rendas que ela ainda tinha aí e quase se envolveu numa luta de murros com um dos locatários quando este descobriu que as suas propriedades e as do seu companheiro de quarto tinham sido removidas dos seus quartos. Sem surpresas, Russell foi rapidamente posto em tribunal. Dois hóspedes furiosos processaram-no por violar os seus contratos de arrendamento, um deles acusou-o de assalto, e Maria processou-o para obter um divórcio de comida e cama. Russell perdeu em todos os casos, exceto na acusação de assalto, da qual foi absolvido.123

Maria Russell acabou por se tornar no opositor mais amargo do seu marido. No seu julgamento para separação, ela tentou magoá-lo de um modo muito incorreto declarando que ele tinha dito que 'ele era como uma medusa flutuando, abraçando todos os que respondessem'. Embora esse testemunho fosse proibido e ela admitisse mais tarde sob juramento que não pensava que ele fosse culpado de adultério, a Sra. Russell foi bem sucedida em macular a reputação do seu marido.124 Mais tarde, a batalha deles continuou sobre a questão da recusa dele em pagar o apoio financeiro decidido pelo tribunal, e novamente ela fez tudo o que era legalmente possível para fazê-lo parecer mal aos olhos do mundo. Ele alegou que não tinha o dinheiro e de qualquer maneira sem dúvida não queria dá-lo pois ela pretendia usar parte desse dinheiro para imprimir e publicar ataques contra ele.125 Embora ela sem dúvida tivesse algumas queixas muito justificadas contra ele, é difícil não sentir que, pelo menos de 1903 em diante, o comportamento dela em relação a ele foi completamente vingativo. No entanto, ao longo dos anos, ao avaliar as disputas amargas entre Charles e Maria Russell, os historiadores não conseguiram chegar sequer perto de um consenso na questão de saber qual dos dois tinha mais culpa.126

O Cisma do Novo Pacto

Pouco depois do caso do divórcio de Russell, veio o amargo e significativo cisma do Novo Pacto. Basicamente, o que aconteceu é que durante a sua disputa com Nelson Barbour, Russell tinha desenvolvido o que veio a ser conhecido como 'a doutrina do Mistério', algo que o jovem Pastor, os seus seguidores, e muitos outros desde então conceberam como 'uma nova verdade'. De fato, o Mistério, conforme entendido por Russell, significava que não só Jesus, o homem, se tinha oferecido a si mesmo como sacrifício de resgate pela humanidade, mas o corpo de Cristo, os 144.000 membros da sua igreja, também participavam no trabalho de resgate e expiação.127 Claro que Russell não se apercebeu que esta 'nova verdade' tinha de um modo geral sido parte da doutrina católica durante séculos.128 Isso, porém, não importava. O que importava era que em resultado da doutrina do Mistério, ele também passou a defender que os membros da igreja de Cristo não estavam sob o Novo Pacto de que as Escrituras falavam como substituindo o pacto que Deus tinha feito com Israel através de Moisés. A razão é que o Novo Pacto não se podia aplicar a toda a humanidade até que todos os membros do corpo de Cristo tivessem sido sacrificados, ressuscitados, arrebatados, e se juntassem ao seu Senhor no céu. E depois de 1881, Russell não esperava que isso acontecesse senão em 1914.

Em 1880 ele foi muito explícito sobre o Novo Pacto. Ele declarou enfaticamente: 'Não deve ser interpretado como sendo o pacto de Deus conosco -- "a semente", não [deve ser interpretado] que foi parte do pacto abraâmico, e embora em harmonia um com o outro, não são o mesmo, nem é o "novo pacto" feito com a igreja de modo nenhum.'129 No entanto, visto que, conforme já foi demonstrado, Russell certamente nem sempre era um pensador claro, dentro de um ano, aparentemente muito inconscientemente, ele reverteu para a opinião cristã tradicional segundo a qual a igreja estava sob o Novo Pacto.130 Conforme Timothy White nota, ele parece ter estado completamente confuso sobre o assunto.131 Não obstante, como a maioria dos Estudantes da Bíblia vivendo na primeira década do século XX tinham-se juntado ao movimento depois de 1880, nada sabiam sobre os seus pensamentos anteriores. Consequentemente, quando Russell reafirmou o seu ensino de 1880 com alguns embelezamentos, muitos dos Estudantes da Bíblia mais qualificados ficaram chocados.

Russell provavelmente não teria notado a discrepância nos seus ensinos se não fosse Paul S. L. Johnson, um qualificado mas excêntrico colportor que haveria de ter uma grande influência na história dos Estudantes da Bíblia em anos posteriores. Johnson tinha sido criado como judeu, foi convertido ao cristianismo, tornou-se pastor luterano e finalmente Estudante da Bíblia. Sendo talvez o associado de Russell com melhor educação e mais estudioso, através de pesquisa ele encontrou a opinião de Russell de 1880, indicou-a a Russell, e encorajou-o a reafirmá-la.132 Escrevendo na edição de janeiro de 1907 de Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], Russell fez isso.

Muitos associados próximos fizeram o seu melhor para que Russell abandonasse esta peculiar doutrina reafirmada do Novo Pacto. Pois ele não só defendia que a igreja não estava sob ou dentro desse pacto, mas até dizia que os 144.000 não precisavam nem tinham um mediador. O mediador para o resto da humanidade, o Cristo, seria Jesus e a igreja juntos -- a Cabeça e o corpo.133 Mas não era possível persuadir Russell a abandonar esta doutrina.

A teimosia de Russell fez muitos dos seus Estudantes da Bíblia críticos acreditar que ele se estava a tornar autocrático, e os seus sentimentos nesta matéria foram reforçados por um assunto secundário -- o curioso caso do 'voto'. O caso do divórcio de Russell trouxe à atenção o assunto de 'conduta própria entre os sexos' entre os Estudantes da Bíblia. Assim, no início de 1908, o Pastor desenvolveu e adotou um voto [ou promessa solene] ao Senhor que, entre outras coisas, declarava: 'Prometo ainda que, com a excepção abaixo, vou em todas as alturas e em todos os lugares comportar-me em relação aos do sexo oposto em privado exatamente como faria em público -- na presença de uma congregação do povo do Senhor, e tanto quanto seja razoavelmente possível evitarei estar sozinho num quarto com qualquer pessoa do sexo feminino, a menos que a porta do quarto fique bem aberta -- excepção feita no caso da esposa, filhos, mãe e irmãs.'134

É claro que ninguém objetou a Russell tomar tal voto. No entanto, ele não parou nesse ponto; ele começou a promover o voto para outros. Primeiro, sugeriu que todos os peregrinos a tempo inteiro e parcial trabalhando sob os auspícios da Sociedade Torre de Vigia, e todos os 'irmãos da família da Casa da Bíblia' em Pittsburgh, também deviam fazer esse voto. Numa carta geral de março de 1908, ele pediu que todo o peregrino e membro da família da Casa da Bíblia se 'vinculasse com um voto para o Senhor' e que indicasse a Russell por escrito que tinha feito isso.135

Seguiu-se uma tempestade. A maioria daqueles a quem se requeria que tomassem o voto fizeram isso, mas alguns objetaram fortemente a toda a idéia. Estes últimos citaram alguns dos ensinos anteriores de Russell contra votos e expressaram ressentimento por o seu Pastor ter tomado a liberdade de publicar os nomes dos que tinham tomado o voto, no que eles encararam como uma forma menos do que subtil de exercer pressão espiritualmente.136 Russell respondeu com animosidade. Disse ele: 'Parece evidente que alguns irmãos normalmente brilhantes perderam a sua educação no que diz respeito ao significado da palavra "voto"' e afirmou que não tinha forçado ninguém a tomar o voto.137 Embora concordasse em não publicar no futuro os nomes dos que tinham tomado o voto, ele escreveu: 'continuem a avisar-nos, se fazem favor, quando tomarem o voto. Nós vamos preservar uma lista alfabética que pode vir a ser útil em algum momento.'138 Claro que os seus críticos passaram imediatamente a encarar esta lista como uma lista de lealdade e ficaram ainda mais alienados. Assim, o voto tornou-se um segundo sinal de alarme para muitos daqueles preocupados com o assunto do Novo Pacto.

Os principais oponentes da reafirmada doutrina de Russell sobre o Novo Pacto e do voto eram tanto Estudantes da Bíblia proeminentes como homens e mulheres que estavam entre os associados próximos e queridos de Russell. Eles incluíam A. E. Williamson (marido da sobrinha do Pastor); M. L. PcPhail; E. C. Henninges, a sua esposa, Rose; e a própria irmã de Russell, Mae Land.139 Entre estes, McPhail tinha servido como o primeiro peregrino a tempo inteiro da Torre de Vigia em 1894.140 Henninges tinha servido durante algum tempo como secretário-tesoureiro da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia], tinha promovido atividades dos Estudantes da Bíblia na Inglaterra, e tinha estabelecido um escritório de filial da Torre de Vigia em Melbourne, Australia.141 Além disso, ele era casado com Rose Ball, a filha adotiva dos Russell e a jovem mulher a quem, segundo Maria Russell tinha afirmado, o seu marido contara a infame história da medusa.142

Em 1909 Henninges escreveu uma longa carta de protesto a Russell.143 Pouco depois foi posta em circulação uma 'carta aberta' dirigida 'a todos os [Estudantes da Bíblia] que compreendem a necessidade de ficarem firmes para o Senhor e a Sua Palavra no meio de tentações subtis e julgamentos deste tempo presente: a todos os que apreciam Jesus como seu Mediador, e o Seu sangue do Novo Pacto como a sua base de favor durante esta Era do Evangelho.'144 A seguir à publicação desta carta, a maioria da congregação de Melbourne, alguns americanos -- incluindo Williamson em Brooklyn -- e outros Estudantes da Bíblia em todo o mundo saíram para formar os New Covenant Believers [Crentes no Novo Pacto].145

Russell não queria que os Crentes no Novo Pacto saíssem e teria continuado em associação com eles. O que ele parece não ter percebido é que a sua posição como 'servo fiel e sábio', editor da Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], e Pastor eleito das congregações de Estudantes da Bíblia lhe dava um papel proeminente como seu guia espiritual. Assim, era impossível opor-se aos seus ensinos e continuar dentro da comunidade dos Estudantes da Bíblia, e os Crentes no Novo Pacto recusaram-se a permanecer calados. Para eles a doutrina tradicional do Novo Pacto era tão importante em 1909 como a doutrina da expiação substitutiva tinha sido para Russell em 1878. Consequentemente, várias centenas de um total de talvez 10.000 Estudantes da Bíblia separaram-se.146 Russell parece não ter compreendido que tinha contribuído grandemente para o sectarismo que tanto odiava.

Adversários Externos de Russell

Problemas causados por cismas entre Estudantes da Bíblia e contendas domésticas não eram as únicas tribulações que Russell sofreu. Muito cedo na sua carreira ele passara a encarar a maioria dos clérigos como falsos pastores: Eles não estavam a fazer qualquer esforço para pregar o reino de Cristo, eram freqüentemente influenciados pela alta crítica, ou estavam ensinando as doutrinas do fogo do inferno ou da imortalidade da alma, que desonram a Deus. Além disso, ele encarava a passagem de pratos de coleta na igreja como uma violação do princípio bíblico: 'De graça recebestes, de graça dai'. Por isso ele adotou como uma espécie de marca registrada nos anúncios das suas reuniões as palavras: 'Entrada Livre, Não se fazem Coletas'.147 Tanto Russell como os Estudantes da Bíblia deixavam transparecer os seus sentimentos a respeito dos 'falsos pastores' na página impressa e onde quer que fossem. Em resultado disso, remexeram num ninho de vespas.

Naturalmente, Russell ficou sob intenso ataque pessoal. Jornais e eclesiásticos individuais insinuaram, depois da sua separação legal em 1906, que ele era um adúltero.148 Ele foi acusado de trapaça financeira, particularmente no que ficou conhecido como o episódio do Trigo Milagroso. Ele foi rotulado de perjuro por um eclesiástico batista canadiano, o Reverendo J. J. Ross, que afirmou que Russell tinha mentido na posição de testemunha dizendo que 'sabia grego', quando não sabia. Tanto o caso do Trigo Milagroso como o de Ross merecem algum comentário.

Em 1904 um homem chamado Stoner, que nada sabia acerca de Russell ou dos Estudantes da Bíblia, descobriu em Fincastle, Virginia, [E.U.A.], uma variedade de trigo espantosamente produtiva a que chamou 'Trigo Milagroso'. Sete anos depois, dois Estudantes da Bíblia doaram trinta alqueires desse trigo à Sociedade Torre de Vigia para serem vendidos a um dólar cada libra como grãos de semente. Os lucros -- uns 1.800 dólares -- deviam ser usados pela Sociedade para levar a cabo as suas atividades. Russell não ganhou nada pessoalmente dos lucros, mas os seus inimigos alegaram que a venda foi uma fraude religiosa. Um jornal de Nova Iorque, o Brooklyn Daily Eagle, atacou-o e ridicularizou tanto Russell como o Trigo Milagroso num cartoon.

Russell processou o Eagle mas perdeu. Ele foi evidentemente muito sincero em vender o famoso grão mas foi mais entusiástico sobre as suas qualidades do que devia. O Trigo Milagroso aparentemente nada mais era do que uma estirpe mutante, uma 'sport'. Depressa perdeu a sua vitalidade fora do normal e não era, como ele verdadeiramente acreditava, um sinal de que a terra seria restaurada em breve a condições paradísicas.149

A acusação de J. J. Ross de que Russell cometeu perjúrio tem sido repetida e têm acreditado nela repetidamente. No entanto, foi Ross, e não Russell, quem deu um falso testemunho. Num panfleto publicado depois da ação criminal de Russell contra ele, Ross citou fora do contexto o seu advogado como perguntando a Russell se ele 'conhecia o grego'. Na realidade, o que o advogado, George Lynch-Staunton, perguntou foi: 'Conhece o alfabeto grego?' Russell respondeu simplesmente: 'Oh, sim'. Ele não fez qualquer alegação sobre conhecer algo mais do grego ou qualquer outra segunda língua para além disso. Portanto Ross distorceu a verdade.150

É impossível lidar aqui com todos os julgamentos e tribulações de Russell, mas um exame cuidadoso de cada um indica que ele era basicamente honesto mesmo quando estava completamente enganado. De fato, a sua vida pessoal foi em geral livre de mácula. Além disso, ele era geralmente um homem atrativo, bondoso, que estava completamente devotado ao cargo de despenseiro que acreditava ser o seu. Mas não pode haver dúvida de que ele tinha um pouco de orgulho arrogante e que por vezes era sincero ao ponto da ingenuidade. Num relacionamento importante -- o seu casamento -- faltou-lhe sensibilidade e afeição normal. Embora sem dúvida ele fosse inocente de fraude no assunto do Trigo Milagroso, devia ter tido melhor senso do que vender grão com esse nome em apoio do evangelismo. Se ele tivesse usado um pouco de premeditação, teria compreendido o mau cheiro que tal especulação comercial causaria. Também, se ele tivesse tomado tempo para pensar, teria reconhecido a frustração sexual da sua esposa e ter-se-ia tornado um marido para ela em mais do que apenas no nome. Mas apesar dessas falhas reais, ao compará-lo com outros líderes religiosos americanos do século XIX e início do século XX, como Joseph Smith, Ellen White, Mary Baker Eddy e Amee Semple McPherson, a personagem de Russell sai-se muito bem.

Últimos Anos e Morte de Russell

Durante os seus últimos anos, Russell era tratado com muito respeito pela comunidade dos Estudantes da Bíblia, e os seus sermões eram publicados tanto na América como na Europa, enquanto ele viajava extensamente de comboio e barco a vapor. De muitas maneiras, a vida deve ter sido agradável para ele. Nas viagens ele não poupava despesas para tornar as coisas muito confortáveis para si e para os seus companheiros de viagem, que incluíam médicos, generais aposentados, professores e juizes. Quando ele visitava as suas congregações dispersas, era regularmente rodeado por homens e mulheres que o adoravam. Afinal, não era ele o seu Pastor, 'aquele servo'? Ainda assim, a sua vida estava longe de ser um mar de rosas. Esteve quase constantemente envolvido em litígios entre 1903 e 1913, e durante esse período foi severamente criticado tanto pelos eclesiásticos como por alguns segmentos da imprensa. Também trabalhou arduamente, obrigando-se a continuar quando a sua saúde começava a falhar. Finalmente, à medida que 1914 se aproximava, ele começou a ficar nervoso com a possibilidade da não confirmação da profecia dos Tempos dos Gentios que tinha sido uma parte tão proeminente dos seus ensinos desde antes da sua separação de Nelson Barbour.

Durante anos, Russell e os Estudantes da Bíblia tinham esperado que as nações gentias do mundo desaparecessem na destruição durante esse ano, ou talvez em 1915 se a data 1914 se provasse errada. Os santos deviam ser levados para o céu para estar com Cristo (visto que isso não tinha acontecido em 1874, 1878 ou 1881) e o domínio milenar de Cristo sobre a terra devia começar. Contudo, à medida que o ano fatídico se aproximava, Russell começava a ser vago nas suas idéias a respeito dele. Originalmente, ele tinha estado absolutamente certo de que 1914 traria o fim. Em The Time Is at Hand [O Tempo É Iminente] ele tinha escrito que 1914 marcara 'o limite mais longínquo do domínio do homem imperfeito',151 mas nas primeiras décadas do século XX ele estava a tornar-se cada vez mais cauteloso. Melvin Curry declara:

Russell usou vários artifícios para negar antecipadamente o efeito do falhanço profético. Primeiro, negou que era inspirado e argumentou que as suas predições eram baseadas na fé e consequentemente não eram infalíveis, no entanto, ele ainda argumentou que a evidência bíblica era tão forte 'que a fé na cronologia quase se torna conhecimento'. Segundo, afirmou que este falhanço em predizer com exatidão os eventos de 1914 'meramente provaria que a nossa cronologia, o nosso "relógio de alarme", despertou um pouco antes do tempo', e que 'o erro não podia ser muito grande'. Por exemplo, ele concedeu que os Tempos dos Gentios 'podem terminar em outubro de 1914, ou em outubro de 1915'. Terceiro, ele reduziu as predições de modo que foram restringidas a eventos sobrenaturais não-empíricos, como o término da 'licença de poder atribuída às nações gentias' e o fim do 'período de colheita da Era do Evangelho'. Quarto, em 1904 ele inverteu a seqüência de eventos cuja ocorrência se esperava e argumentou que 'anarquia mundial' seguir-se-ia ao fim dos Tempos dos Gentios em 1914, em vez de preceder esse fim. Quinto, ele mudou a sua predição de que o colapso da cristandade seria 'súbito e horrível' e passou a negar que as nações 'todas cairão em pedaços nesse ano'. Em vez disso, afirmou que a fase terrestre do reino seria estabelecida mais tarde do que 1914; isto deixou um período de tempo depois do término da licença dos gentios para a queda das nações e o 'estabelecimento gradual do reino na terra'. Finalmente, ele comparou o seu possível erro cronológico com outras incertezas bíblicas.152

No entanto, Russell continuou a acreditar naquilo que era agora o seu próprio sistema, e em 1913 houve grande excitação milenarista entre os Estudantes da Bíblia. Assim, quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, Russell viu isso como uma confirmação das suas especulações cronológicas e proféticas. Ao contrário de muitos dos seus seguidores, mesmo na sede da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] em Brooklyn, ele não foi vencido pelo fato de não terem sido levados embora nas nuvens. No seu livro Faith on the March [A Fé em Marcha], A. H. Macmillan conta o que aconteceu no outono de 1914: 'sexta-feira de manha (2 de outubro) nós estávamos todos sentados na mesa do pequeno almoço quando Russell desceu. Ao entrar na sala ele hesitou um momento como era seu costume e disse alegremente: "Bom dia a todos." Mas nesta manhã, em vez de continuar para o seu lugar como era normal, ele bateu palmas vigorosamente e anunciou: "Os tempos dos gentios terminaram; os reis já tiveram seus dias." Todos nós aplaudimos.'153

Estudantes da Bíblia dispersos em muitas partes do mundo aplaudiram. Embora 1914 não tivesse trazido o fim, tal como as Testemunhas de Jeová hoje eles estavam muito dispostos a aceitar a idéia de que o eclodir da Primeira Guerra Mundial na Europa tinha realmente provado que a cronologia Barbour/Russell era basicamente sólida.154 No entanto, embora a vinda da guerra tenha salvo a sua comunidade de outra grande crise de fé -- pelo menos imediatamente -- criou outros problemas extremamente graves. Por um lado, como na opinião deles os Tempos dos Gentios tinham terminado, o 'apocalipticismo apolítico' dos Estudantes da Bíblia aumentou grandemente. Russell tomou uma posição mais forte em apoio da objeção de consciência e condenou os eclesiásticos no Canadá por agirem como agentes de recrutamento para os 'dentes do dragão da guerra.'155 É claro que ao tomarem esta posição nos Estados Unidos entre 1914 e 1916 ele e os seus seguidores não estavam fora da tendência da maioria dos seus compatriotas. Mas o mesmo não era verdade em outras partes do mundo; e no verão de 1916 Russell foi proibido de entrar no Canadá por funcionários de imigração canadianos, furiosos com ele por 'interferir com o recrutamento' no Império Britânico.156

Muito mais sério para os Estudantes da Bíblia foi o fato de Russell ter morrido em grande dor num comboio no sudoeste dos Estados Unidos em 31 de outubro de 1916.157 Ele estava cansado e doente há algum tempo mas insistiu em continuar os seus deveres de pregação e pastoreio para o seu rebanho disperso mesmo até ao fim. Pois nos seus últimos anos de vida ele estava convencido que a Primeira Guerra Mundial terminaria em 1918 na batalha do Armagedom e no arrebatamento da igreja.158 Assim, embora a sua morte o tenha salvo da desilusão que poderia ter sentido se tivesse vivido para ver a guerra acabar e sem que as nações do mundo passassem para o esquecimento, veio numa ocasião muito inoportuna para os seus seguidores. Eles não tinham esperado ver o seu Pastor, 'aquele servo', morrer antes do fim do mundo e não estavam psicologicamente preparados para continuar o seu ministério e o deles no futuro. Mais significativo, eles haviam de ficar grandemente perturbados pelo fato de a igreja mais uma vez não ter sido 'levada para casa' para o céu, os judeus não serem restaurados à Palestina, e as nações do mundo não estarem quebradas em pedaços como Russell tinha predito, quando a guerra acabou com o Tratado de Versailles em vez do apocalipse. De fato, o movimento dos Estudantes da Bíblia quase desapareceu em 1917 e 1918 devido a lutas entre os sucessores de Russell e devido à perseguição de governos seculares e turbas que se lançaram sobre eles depois de os Estados Unidos entrarem na guerra em abril de 1917. Embora Russell tivesse feito alguns planos para a sua morte e a continuação do seu trabalho depois disso, não podia ter imaginado o que estava para acontecer em breve.


Notas

1 Salvo indicação em contrário, a informação sobre Russell é tirada de Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 1906, reimpressões pp. 3820-3828; The Watch Tower [A Torre de Vigia], 1916, reimpressões pp. 5997-6013; The Laodicean Messenger [O Mensageiro Laodicense] (Chicago: The Bible Students Book Store, 1923); Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] (Brooklyn, NY: Watchtower Bible and Tract Society, 1959); Timothy White, A People for His Name [Um Povo Para o Seu Nome] (Nova Iorque: Vantage Press, 1967).

2 Segundo Richard Rawe, de Soap Lake, Washington, que investigou de perto as actividades comerciais de Russell, muitas das alegações a respeito do seu grande talento para o negócio são um tanto exageradas. Por exemplo, em The Laodicean Messenger [O Mensageiro Laodicense] o seu biógrafo diz na página 6 que o negócio das lojas 'em breve enriqueceu-o, e pouco depois de atingir a maioridade ele já tinha um quarto de milhão de dólares.' Rawe argumenta que a riqueza de Russell só veio algum tempo mais tarde, depois de ter herdado 6.000 dólares (que usou para investimento de capital) de um tio. Não obstante, Russell era um empresário extremamente hábil que usou a sua riqueza inicial, muito modesta, para acumular uma fortuna significativa.

Russell admitiu em 1907 que tinha 'bens no valor de 60.000 dólares em 1879, que incluíam duas lojas de roupas em Allegheny e três em Pittsburgh.' De fato, ele provavelmente tinha muito mais do que isso. Numa carta a um tal Sr. J. H. Brown, enviada aproximadamente em 1898, ele tinha escrito: 'Você conheceu-me através dos negócios há 20 anos atrás, quando me vendeu mercadoria. Você provavelmente sabia nesse tempo que eu tinha uma avaliação nas agências comerciais de cerca de 150.000 dólares -- que eu tinha a maior loja de vestuário para homem em Pittsburgh, além de várias sucursais mais pequenas.' Transcrição do registro no caso Russell v. Russell em apelo no Tribunal Superior de Pennsylvania (abril de 1907), pp. 23, 42, 43.

3 Pastor Russell's Sermons [Sermões do Pastor Russell] (Brooklyn, NY: International Bible Students Association, 1917), p. 517.

4 Menção da correspondência de J. L. Russell aparece no Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da Vida e do Reino Vindouro] da Life and Advent Union [União da Vida e do Advento].

5 Veja o prefácio do autor em The Laodicean Messenger [O Mensageiro Laodicense] e em The Finished Mystery [O Mistério Consumado] (Brooklyn, NY: International Bible Students Association, 1917), pp. 45-47.

6 WT, 1906, reimpressões, p. 3821.

7 Stetson pregou durante algum tempo em Pittsburgh mas depois mudou-se para Edinboro, Pennsylvania, onde serviu como pastor de uma grande congregação. Uma referência à sua morte pode ser encontrada na WT, 1879, reimpressões, p. 46. O último desejo dele foi que Russell devia dirigir o seu serviço fúnebre.

8 A maior parte da informação apresentada aqui sobre Storrs é tirada de Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da Vida e do Reino Vindouro], 7 de janeiro de 1880; Bible Examiner [Examinador da Bíblia], março de 1880; Frank S. Mead, Handbook of Denominations in the United States [Manual de Denominações nos Estados Unidos] (Nova Iorque: Abingdon-Cokesbury Press, 1951), p. 19; e LeRoy Edwin Froom, The Conditionalist Faith of Our Fathers [A Fé Condicionalista dos Nossos Pais] (Washington, DC: The Review and Herald Publishing Association, 1967), vol. 2, pp. 305-315.

9 Froom, vol. 2, pp. 300-305.

10 A história do condicionalismo de Froom, em dois volumes, é a única história completa do assunto em inglês. Para uma abordagem mais breve, veja 'Annihilationism' [Aniquilacionismo] na The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge [A Nova Enciclopédia Schaff-Herzog de Conhecimento Religioso], vol. 1, pp. 236, 237.

11 Veja 'Annihilationists' [Aniquilacionistas] na McClintock and Strong Cyclopaedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature [Enciclopédia de McClintock e Strong de Literatura Bíblica, Teológica e Eclesiástica] (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1980), vol. 1, pp. 236, 237.

12 Bible Examiner [Examinador da Bíblia], março de 1880, p. 404.

13 O Dr. John Thomas, fundador dos Cristadelfos, associou-se durante um breve período com os Milleritas. Tal como muitos que se associaram com os Milleritas, ele passou a aceitar o condicionalismo.

14 'Synopsis of Our Faith' [Sinopse da Nossa Fé], em Bible Examiner [Examinador da Bíblia], janeiro de 1877, p. 104. As últimas idéias de Storrs sobre o resgate e a restituição foram elaboradas em 1870 e 1871.

15 O hábito de celebrar a Ceia do Senhor em 14 de Nisã começou entre os membros da União da Vida e do Advento na década de 1860. Storrs continuou a prática até à sua morte. Veja, por exemplo, Bible Examiner [Examinador da Bíblia], fevereiro de 1877, p. 131.

16 Jonathan M. Butler, 'Adventism and the American Experience' [Adventismo e a Experiência Americana], em Edwin Scott Gaustad, ed., The Rise of the Adventism [A Ascensão do Adventismo] (Nova Iorque: Harper and Row, 1974), p. 177.

17 É verdade que Storrs teve outra opinião sobre a matéria depois da Guerra Civil Americana.

18 Em The Last Times and Great Consumation [Os Últimos Tempos e a Grande Consumação] (1863), Seiss ensina nas páginas 218-220 que depois das suas ressurreições Cristo e os santos têm 'corpos espirituais glorificados'.

19 Há real incerteza quanto à data exata da primeira publicação de The Object and Manner of Our Lord's Return [O Objeto e Maneira da Volta de Nosso Senhor]. Embora a Sociedade Torre de Vigia apresente a data 1873, parecem não existir quaisquer cópias que contenham uma data anterior a 1877, quando foi publicada uma edição por The Herald of the Morning [O Arauto da Manhã], editado por Nelson H. Barbour. Além disso, segundo Paul S. L. Johnson, o próprio Russell declarou que passou a aceitar a doutrina da presença invisível de Cristo em outubro de 1874. Paul S. L. Johnson, The Parousia Messenger [O Mensageiro da Parousia] (Filadélfia: Paul S. L. Johnson, 1938), pp. 368, 369, 437.

20 C. T. Russell, The Object and Manner of Our Lord's Return [O Objeto e Maneira da Volta de Nosso Senhor] (Rochester, NY: The Herald of the Morning, 1877), p. 45.

21 Existem três interpretações tradicionais de Revelação: a preterista, que afirma que as profecias foram cumpridas no fim do primeiro século; a historicista, que argumenta que Revelação fornece uma história simbólica, profética, desde o primeiro século até depois do fim do milênio; e a futurista, que defende que Revelação só trata de eventos escatológicos que começam imediatamente antes do segundo advento de Cristo. Ao adotar a posição historicista, Russell estava de acordo com a maior parte do protestantismo inglês e americano.

22 O artigo de Jonsson, intitulado a 'Theory of Christ's Parousia as an "Invisible Presence"' [Teoria da Parousia de Cristo como uma "Presença Invisível"], aparece nas edições de novembro-dezembro de 1982 e janeiro-fevereiro de 1983 do The Bible Examiner [O Examinador da Bíblia], publicado por Christian Koinonia International of Lethbridge, Alberta, Canadá.

23 Carl Olof Jonsson, The Bible Examiner [O Examinador da Bíblia] (janeiro-fevereiro de 1983), vol. 3, p. 12. Para um excelente estudo sobre história do milenarismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos durante o século XIX, veja Ernest R. Sandeen, The Roots of Fundamentalism: British and American Millenarianism, 1800-1930 [As Raízes do Fundamentalismo: Milenarismo Britânico e Americano, 1800-1930] (Chicago: University of Chicago Press, 1970).

24 Alan Rogerson, Millions Now Living Will Never Die [Milhões Que Agora Vivem Nunca Morrerão] (Londres: Constable and Co. Ltd., 1969), pp. 8, 9. Durante os anos 1879 a 1882 Keith escreveu vários artigos para a Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião] sobre as doutrinas do resgate, da igreja, da presença invisível de Cristo e da restituição de todas as coisas.

25 WT, 1906, reimpressões, p. 2822.

26 Herald of the Morning [Arauto da Manhã], maio de 1879, p. 88. Russell também se refere repetidamente a Barbour como 'o autor' de Three Worlds nos primeiros números de Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião].

27 A idéia, tirada de Números 14:33, 34 e Ezequiel 4:1-8, de que dias proféticos como aqueles mencionados em Daniel e em Revelação em particular deviam ser entendidos como representando anos, foi geralmente aceite por muitos apocalípticos e milenaristas católicos e protestantes desde o tempo de Joaquim de Flora até ao tempo de Russell, incluindo Wycliffe e muitos dos principais reformadores.

Curiosamente, o mentor de Russell, George Storrs, encarava a teoria do ano-dia como sendo um disparate. Num artigo do Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da Vida e do Reino Vindouro] de 2 de outubro de 1867, na página 2, ele congratula o seu velho adversário Dr. Josiah Litch por abandonar a teoria.

28 O 'ano profético' de 360 dias é muitas vezes chamado um ano lunar. Na realidade, um ano lunar é um pouco mais do que 354 dias, e não existe evidência de que um calendário de 360 dias fosse sequer usado pelos antigos israelitas, a menos que o tenham usado em relação a outros povos antigos como os egípcios. O ano profético enquanto tal, é baseado numa extrapolação protestante do século XVII de Revelação 12:6, 14, onde 1.260 dias são igualados a 'um tempo, tempos, e metade de um tempo'. Com base nestes versículos e, também, Revelação 13:5, muitos 'estudantes proféticos' passaram a defender que 'tempo' era um 'ano' de 360 dias.

29 N. H. Barbour e C. T. Russell, Three Worlds and the Harvest of This World [Três Mundos e a Colheita Deste Mundo] (Rochester, NY: The Herald of the Morning, 1877), p. 42.

30 Ibid, p. 63, 67-77, 93-103.

31 Ibid, p. 85-93.

32 Ibid, p. 68.

33 Ibid, p. 93-103.

34 Ibid, p. 158.

35 Praticamente nada se sabe acerca de Brown.

36 Páginas 27, 28.

37 John A. Brown, The Even-Tide: or Last Triumph of the Blessed and Only Potentate, the King of Kings, and Lord of Lords: Being a Development of the Mysteries of Daniel and St. John [A Noite: ou Último Triunfo do Abençoado e Único Potentado, o Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores: Sendo um Desenvolvimento dos Mistérios de Daniel e S. João] (Londres: J. Offor e outros editores, 1823), vol. 2, pp. 130-152. Brown não se referiu aos 2.520 anos como os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24; isso foi feito por várias pessoas incluindo William Miller, que seguiu a sua interpretação de Daniel 4.

38 Barbour e Russell, pp. 77-85. Evidentemente John Brown tinha reconhecido que se começássemos os 'sete tempos' no outono do ano 604 a.C., os 2.520 anos terminariam em 1917 A.D., não em 1916.

Karl Burganger diz, acerca de Russell e do término em 1914: 'Gradualmente, Russell e os seus associados tinham começado a perceber que a aritmética [usada por Barbour] empregada na contagem dos 2.520 anos desde 606 a.C. até 1914 A.D. (2520-606 = 1914) não era tão simples como tinha parecido inicialmente. Foi apontado que desde outubro de 606 a.C. até ao início da era cristã não passaram 606 anos completos, mas 605 anos e 3 meses. Isto deslocaria a data final dos "tempos dos gentios" de outubro de 1914 para outubro de 1915.' Karl Burganger, The Watch Tower Society and Absolute Chronology: A Critique [A Sociedade Torre de Vigia e a Cronologia Absoluta: Uma Crítica] (Lethbridge: Christian Fellowships International, 1981), p. 9. Veja também WT, 1912, reimpressões, pp. 5141, 5142.

39 Barbour e Russell, pp. 19-22.

40 Ibid, p. 84.

41 Bible Examiner (julho de 1877), p. 317.

42 White, pp. 80, 81.

43 Veja por exemplo Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] (Brooklyn, NY: Watchtower Bible and Tract Society, 1959), pp. 17-21.

44 Ibid. Barbour continuou a publicar as suas ideias no Herald e em 1907 publicou um livro intitulado Washed in His Blood [Lavados no Seu Sangue], que apresenta uma imagem clara do seu pensamento nos anos posteriores.

45 WT, 1906, reimpressões, p. 3823. Na realidade, a imagem dada por Russell e pelas Testemunhas de Jeová hoje é um tanto tendenciosa, para dizer o mínimo, e Russell certamente citou Barbour fora do contexto. O que Barbour negou foi a doutrina da expiação substitutiva e o significado da morte de Cristo. Até ao fim da sua vida, Barbour continuou a usar os termos 'resgate' e 'expiação'.

A posição dele é completamente delineada em The Herald of the Morning [O Arauto da Manhã] (agosto de 1877), páginas 26-28 e em resposta a críticas de Russell e Paton nas páginas 40-43 da edição de setembro e páginas 56-58 da edição de novembro. A primeira declaração de Russell sobre este assunto aparece na edição de setembro nas páginas 39 e 40; a de Paton, mais conciliadora, aparece na página 56 da edição de outubro.

É difícil acreditar que Russell ou Barbour compreendessem as ramificações dos assuntos sobre os quais estavam a argumentar. Embora Barbour acreditasse na doutrina da incarnação, a sua posição de 1877 a respeito da expiação era muito mais sociniana (unitariana) na natureza do que ortodoxa. No entanto, Russell, que não acreditava na incarnação em qualquer sentido ortodoxo, defendeu a expiação substitutiva. Se analisarmos as suas idéias sobre este assunto, eram virtualmente arminianas. Para uma breve perspectiva histórica da doutrina da expiação, veja Louis Berkhof, The History of Christian Doctrine [A História da Doutrina Cristã] (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1975), pp. 165-199.

46 WT, 1906, reimpressões, pp. 3822, 3823. Na sua descrição do ataque de Barbour a ele, Russell certamente não estava a exagerar. Por exemplo, veja The Herald of the Morning [O Arauto da Manhã], maio de 1879, pp. 87, 88.

47 WT, 1906, reimpressões, pp. 3822, 3823.

48 Ibid.

49 Ibid.

50 Ibid, 1881, reimpressões, p. 224. Veja também WT, 1880, reimpressões, p. 172.

51 Melvin Dotson Curry, Jr., 'Jehovah's Witnesses: The Effects of Millenarianism on the Maintenance of a Religious Sect' [Testemunhas de Jeová: Os Efeitos do Milenarismo na Manutenção de uma Seita Religiosa] (dissertação de doutoramento, Florida State University, 1980), p. 147.

52 WT, 1881, reimpressões, pp. 224, 288, 289.

53 Veja Curry, p. 150, e Joseph F. Zygmunt, 'Prophetic Failure and Chiliastic Identity: The Case of Jehovah's Witnesses' [Falhanço Profético e Identidade: O Caso das Testemunhas de Jeová], em Patrick H. McNamara, ed., Religion American Style [Religião ao Estilo Americano] (Nova Iorque, Harper and Row Publishers, 1974), p. 148. O comentário de Russell em Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião] encontra-se em reimpressões, p. 152, na edição de novembro de 1880.

54 WT, 1880, reimpressões, p. 167.

55 Ibid, p. 224.

56 O compromisso de Russell com a cronologia de Barbour era tão completo que ele tinha a certeza de que algo importante tinha de acontecer no outono de 1881. No entanto, ele tinha sido obrigado a espiritualizar o falhanço de 1878 e parecia inseguro na sua própria mente sobre como a 'mudança' ocorreria em 1881. Por isso ele fez sugestões para ajustar os fatos à teoria numa base quase mensal e, no seu zelo para o fazer, contradisse-se de uma maneira extraordinária.

57 James Parkinson, The Bible Student Movement in the Days of Pastor Russell [O Movimento dos Estudantes da Bíblia nos Dias do Pastor Russell] (Los Angeles: impressão privada, 1975), A-2.

58 WT, 1881, reimpressões, p. 214.

59 The Laodicean Messenger [O Mensageiro Laodicense], pp. 62, 63, 105, 106; Divine Purpose [Propósito Divino], pp. 62, 63.

60 WT, 1916, reimpressões, p. 5998.

61 WT, 1906, reimpressões, pp. 3745, 3746.

62 Ibid, 1884, reimpressões, pp. 584, 585; 1887, reimpressões, p. 918; 1887, reimpressões, p. 1071; 1906, reimpressões, p. 3746.

63 Ibid, 1882, reimpressões, pp. 369-377.

64 Barbour e Paton eram trinitaristas. Nas páginas 57 e 58 de Three Worlds Barbour atacou os cristadelfos por negarem a personalidade do Espírito Santo. Para a posição de George Storrs sobre o assunto, veja Bible Examiner (maio de 1878), p. 231.

Embora Henry Grew e George Stetson -- outros dois que o influenciaram -- fossem não-trinitaristas, Russell não tomou posição na matéria, pelo menos publicamente, até depois da sua separação de Paton. As suas declarações anteriores sobre cristologia realmente forçaram-no a tomar uma posição ariana.

65 Como segundo Russell a Igreja de Cristo estava limitada a 144.000 membros, a maioria das pessoas ou ganhariam salvação como membros da 'Grande Companhia' -- uma classe celestial secundária -- ou sobreviveriam para um novo paraíso edênico na terra. Os judeus naturais seriam restaurados na Palestina. Veja Russell, Thy Kingdom Come [Venha o Teu Reino], capítulos VI e VIII.

66 WT, 1907, reimpressões, pp. 3942, 3943; 1916, reimpressões, p. 5998.

67 Ibid.

68 Para um relato completo sobre o desenvolvimento do movimento Estudantes da Bíblia/Testemunhas na Grã-Bretanha, veja o 1973 Yearbook [Anuário 1974], pp. 88-141.

69 M. James Penton, Jehovah's Witnesses in Canada [Testemunhas de Jeová no Canadá] (Toronto: Macmillan of Canada, 1976), pp. 35, 36. Veja também o 1979 Yearbook [Anuário 1980], pp. 78-80.

70 Estes debates foram reimpressos recentemente pelos Chicago Bible Students [Estudantes da Bíblia de Chicago] em Harvest Siftings, vol. 1 (Chicago: Chicago Bible Students, sem data).

71 The Laodicean Messenger [O Mensageiro Laodicense], p. 99.

72 WT, 1915, reimpressões, p. 5730.

73 C. T. Russell, The New Creation [A Nova Criação] (Brooklyn, NY: International Bible Students Association, 1924), p. 280.

74 Todas as classes eram mantidas completamente independentes. Leslie W. Jones, MD, ed., What Pastor Russell Said [O Que Disse o Pastor Russell] (Chicago: impressão privada, 1917), p. 346. Veja também WT, 1915, reimpressões, p. 5743; e 1916, reimpressões, pp. 5981, 5982.

75 Jones, pp. 479, 480.

76 Ibid, pp. 100-102, 232; Russell, The New Creation [A Nova Criação], pp. 263, 264, 326-328.

77 Russell, The New Creation [A Nova Criação], pp. 289-293.

78 Ibid. Para uma excelente discussão de todo este assunto, veja White, pp. 115-117.

79 Russell, The New Creation [A Nova Criação], pp. 326-328. Veja também WT, 1913, reimpressões, p. 5284.

80 The New Creation [A Nova Criação], pp. 449, 450.

81 Ibid, pp. 263, 264.

82 Para a atitude geral de Russell nesta matéria, veja a edição extra da WT, abril de 1894, pp. 16, 17.

83 Para uma discussão do controlo de Russell sobre a sociedade, veja White, pp. 122, 123. Embora Russell geralmente fosse muito cuidadoso para não tentar controlar a 'igreja' ou eclésias locais através do seu cargo de presidente da sociedade, dentro da sociedade ele mantinha controlo firme. Um cisma em 1894 resultou largamente desse fato. Veja a edição extra da WT, abril de 1894.

84 WT, 1894, reimpressões, p. 1320. Timothy White diz: 'Houve apenas um ponto, tanto quanto sei, onde Russell usou a corporação descuidadamente, e isto foi ao designar os seus peregrinos como representantes da corporação em vez de serem representantes de si mesmo ou de uma congregação' (White, p. 123).

85 WT, 1895, reimpressões, p. 1868.

86 Ibid, 1905, reimpressões, pp. 3517, 3518.

87 WT 1910, reimpressões, pp. 4684-4686.

88 Veja White, pp. 135-137; e Walter R. Martin, Jehovah of the Watchtower [Jeová da Watchtower] (Chicago: Moody Press, 1974), pp. 24, 25.

89 Timothy White acusa Russell de se basear numa 'tirania da maioria' ao forçar a sua vontade sobre os seus irmãos. Veja White, pp. 129-137. No entanto, Russell estava disposto a basear-se na sua influência, não na sua autoridade administrativa, para conseguir que fosse feita a sua vontade entre os seus irmãos. Embora fosse por vezes cáustico em relação a Estudantes da Bíblia críticos, ele nunca os condenou à maldição eterna como a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] atualmente.

90 Reimpressões, p. 5156.

91 White, p. 137.

92 WT, 1881, reimpressões, p. 291.

93 Ibid, 1906, reimpressões, p. 3811.

94 Ibid.

95 Ibid. Veja também WT, 1895, reimpressões, pp. 1796, 1797; e 1896, reimpressões, p. 1946.

96 Ibid, 1895, reimpressões, p. 1797.

97 The Watch Tower [A Torre de Vigia] de 15 de fevereiro de 1927, página 56, declarou que Russell nunca tinha afirmado ser o servo fiel e sábio. A revista disse textualmente: 'Ele próprio nunca fez essa afirmação.'

Mais recentemente a Sociedade disse o mesmo. O livro God's Kingdom of a Thousand Years Has Approached [Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos] cita a declaração de Russell da Watch Tower [Torre de Vigia] de 1881 (reimpressões, p. 291) nas páginas 345 e 346 e depois observa: 'Disto se torna bem claro que o redator e editor da Torre de Vigia de Sião repudiava qualquer reivindicação de ser individualmente, na sua pessoa, esse "servo fiel e sábio". Nunca afirmou ser tal.'

Numa nota de rodapé a esta declaração, o autor do livro Aproximou-se o Reino de Deus, de modo muito estranho, remete o leitor para o livro de Russell The Battle of Armageddon [A Batalha do Armagedom], p. 613. Nessa página Russell indica claramente que considera que o 'servo fiel e sábio' é uma pessoa, não a igreja cristã. Evidentemente, portanto, o autor do livro Aproximou-se o Reino de Deus não compreendeu de todo as observações de Russell ou é culpado de tentar distorcer os fatos.

98 Reimpressões, p. 5998.

99 Barbour e Russell, pp. 96-99. A idéia era e é comum entre os dispensacionalistas protestantes.

100 WT, 1918, reimpressões, p. 6212.

101 The Laodicean Messenger, p. 150.

102 WT, 1918, reimpressões, p. 6212; The Laodicean Messenger, p. 150.

103 Para a discussão de Russell sobre as suas tribulações com a esposa, veja Watch Tower, 1906, reimpressões, p. 3808-3820. Pode ser encontrada informação adicional nas transcrições do registro nos julgamentos de Russell v. Russell no tribunal de Common Pleas of Allegheny, Pennsylvania (junho de 1906), e na apelação perante o Supremo Tribunal de Pennsylvania (abril de 1907); a opinião de Justice Orlady a favor do Supremo Tribunal em 37 Pennsylvania Superior Court 348, Russell v. Russell (1908); e J. F. Rutherford, A Great Battle in the Ecclesiastical Heavens [Uma Grande Batalha nos Céus Eclesiásticos] (Brooklyn, NY: Impressão privada, 1915), pp. 17-19.

104 Watch Tower, 1906, reimpressões, p. 3815.

105 Ibid.

106 Ibid. Nenhuma declaração neste sentido aparece na transcrição do registro de Russell v. Russell (1906). Russell, no entanto, refere-se indubitavelmente a uma conferência que ocorreu entre o advogado de Maria e o seu próprio perante o juiz sobre numa 'matéria delicada'. Parece que o juiz não permitiria que fosse discutido abertamente no tribunal o falhanço de Russell de coabitar.

107 Veja a transcrição do registro em Russell v. Russell (1906), pp. 10-17.

108 Veja a transcrição do registro em Russell v. Russell (1907 em apelo), pp. 117-127.

109 Ibid. Veja também WT, 1906, reimpressões, p. 3816.

110 WT, 1906, p. 3810.

111 Ibid.

112 Ibid.

113 Transcrição do registro em Russell v. Russell (1907 em apelo), pp. 130.

114 Justice Orlady, ao falar pelo Supremo Tribunal da Pennsylvania, foi particularmente crítico em relação à conduta de Russell para com Maria. Numa decisão em que avaliou as próprias observações de Russell, Orlady disse: 'O seu [de Russell] modo de conduta em relação à esposa evidenciou tal egoísmo insistente e auto-elogio extravagante que seria manifesto para o júri que a sua conduta em relação a ela foi de contínua dominação arrogante, que transformaria necessariamente a vida de qualquer mulher cristã num fardo e tornaria a sua condição intolerável.' 37 Pennsylvania Superior Court 348, Russell v. Russell (1908).

115 WT, 1906, reimpressões, p. 3812.

116 Ibid, reimpressões, p. 3811.

117 Página 99.

118 WT, 1906, reimpressões, p. 3812.

119 Ibid.

120 Ibid.

121 Ibid, reimpressões, p. 3813.

122 Ibid.

123 Ibid, reimpressões, pp. 3814, 3815. Veja também a transcrição do registro em Russell v. Russell (1907 em apelo), pp. 210, 211, 225-228.

124 A 'História da Medusa' ainda é repetida por muitos críticos de Russell como se tivesse substância real. De fato, a 'História da Medusa' reflete-se mais negativamente sobre Maria Russell do que sobre Charles. Parece, a partir de toda a evidência, que ela estava excessivamente amarga em relação a ele -- talvez com alguma justificação -- e queria simplesmente atacá-lo de qualquer modo.

125 White, p. 39.

126 Conforme Timothy White observa com razão, as duas perspectivas sobre o divórcio de Russell que se tornaram populares são ambas 'extremas'. A verdade provavelmente está algures no meio. White, pp. 33-39.

127 WT, 1906, reimpressões, pp. 3824, 3825; Russell, Tabernacle Shadows of the Better Sacrifices [Sombras do Tabernáculo de Sacrifícios Melhores], passim.

128 A doutrina católica das indulgências é baseada neste conceito. Veja a Catholic Encyclopedia, vol. 8, pp. 784, 785.

129 WT, 1909, reimpressões, pp. 4370, 4371.

130 Ibid, 1881, reimpressões, p. 283.

131 White, pp. 109, 110.

132 Ibid, 110.

133 WT, 1909, reimpressões, p. 4310.

134 WT, reimpressões, pp. 4191, 4192.

135 Ibid.

136 Veja 'What the Vow Signifies' [O Que Significa o Voto], reimpressões, pp. 4263-4266.

137 Ibid.

138 Ibid.

139 White, p. 111; Parkinson, P-3, P-4.

140 White, p. 111.

141 Ibid.

142 P-3, P-4.

143 White, p. 111.

144 Ibid.

145 Ibid; Parkinson, P-3, P-4.

146 Parkinson, P-4.

147 Rutherford, p. 10.

148 Ibid, p. 19.

149 Ibid, pp. 22-30. Uma cópia da transcrição do registro da ação judicial de Russell contra o Brooklyn Eagle está na Biblioteca de Betel da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] em Brooklyn, NY.

150 Para uma discussão completa deste caso, veja Penton, Apêndice A.

151 C. T. Russell, The Time Is at Hand [O Tempo É Iminente] (Brooklyn, NY: International Bible Students Association, 1908), p. 77.

152 Curry, pp. 157, 158.

153 Macmillan, p. 47.

154 Ibid, pp. 48-63. Macmillan refere-se ao eclodir da Primeira Guerra Mundial como 'a coisa errada no tempo certo', uma idéia defendida pelas Testemunhas de Jeová até hoje.

155 Penton, pp. 42-47.

156 Ibid, p. 4.

157 Para detalhes sobre a sua morte, veja WT, 1916, reimpressões, pp. 5997-6016.

158 WT, 1916, reimpressões, pp. 5950-5951.


Índice